54.
TERMINAIS DATADOS
Coimbra,
sexta-feira, 15 de Maio de 2020
I
Tenho
fundadas razões para crer ter sido em uma estância senatorial de montanha que
certo livro foi oferecido por mãos senhoris & anglógrafas a mãos
portuguesas & senhoris também. (Cf. fragmento em itálico da página 145
deste manuscrito, n.º IV da entrada 48).
“To
dear Maria Arminda
with
much love and best
wishes
for ever, ever so
many
happy returns
of
the day.
Helen
C.O. Connor
Caramulo
17.12.41”
O
autógrafo abria uma excelente oferta. Trata-se de um exemplar de Histoire de
la Littérature Française – des origines à nos jours – Classes de Lettres et
examens divers – par Ch.-M. des Granges – Professeur de Première au Lycée
Charlemagne – Docteur ès Lettres – Trente-Sixième Édition Revue et Augmentée –
PARIS – LIBRAIRIE A.HATIER – 8, rue d’Assas, VIe. – 1941 – Tous droits
reservés.
A
página titular da obra é ilustrada pela chancela da editora, cuja divisa latina
(ou lema heráldico, vamos lá) é – LEGENTEM JUVO.
Passados
42 anos, cinco meses & 22 dias dessa Quarta-Feira-17-12-1941, dei por mim
vivo em um alfarrabista desta Cidade. Era então Sexta-Feira-8-6-1984. Não,
calma. Minto sem querer. Ambas as datas estão correctas. Mas não é num
alfarrabista que estou nesse dia em que completo 20 anos & um mês exactos
de nascido. Em vez de em alfarrabista, estou é no pavilhão representante da
Imprensa Nacional Casa da Moeda na Feira do Livro de Coimbra, então realizada
na Praça do Comércio, vulgo Praça Velha e/ou das Cebolas. Por cinquenta
escudos, entro em posse de uma preciosidade simples: Retratos de Mulheres,
de Sainte-Beuve, traduzidos por António Sérgio e publicados pela Imprensa da
Universidade de Coimbra em 1932.
Passam
mais 34 anos & treze dias. Continuo vivo e à procura de livros. Por um
euro, torna-se meu um voluminho francês sem data à vista. A minha data é
matinal: Quinta-Feira-21-6-2018. Trata-se de uma gema: Lettres Choisies de
Mme. de Sévigné. A chancela é da Ernest Flammarion Éditeur – 26, Rue
Racine, Paris.
Sumariemos:
1941, 1984, 2018. E agora 15 de Maio de 2020. “Isto anda tudo ligado”,
como em 1970 nos ensinou o esquecido & malogrado Eduardo Guerra Carneiro
(1942-2004). E ligado como? Ligado assim: há dez dias, 5 do corrente
Maio deste Ano VinteVinte, pus-me a ler de uma assentada os tais
sainte-beuveanos retratos mulheris que António Sérgio trasladou do Francês para
a nossa Língua. O segundo desses esquissos ligeiritos (pp. 27-53) é dedicado à
Madame de Sévigné (1626-1696). Tal leitura fez-me apetite para as Lettres
da senhora. Antes de botar-me a elas, porém, enriqueci-me na tal prenda de
Helen Connor a Maria Arminda: li da 449 à 462 o que o Doutor Ch.-M- des Granges
ensina a propósito da célebre epistológrafa setecentista.
Precisão
de alguns marcos cronológicos:
Helen
C.O. Connor – nascimento & óbito ignorados;
era viva em 1941. O exemplar que ofereceu a Maria Arminda (n. & m.
igualmente ignorados por mim) tem a particularidade de ter vindo a lume na
capital de França quando ocupada pelos Nazis.
Madame
(e Marquise) de Sévigné – née
Marie de Rabutin-Chantal, nasceu a 5 de Fevereiro de 1626 (5.ª-f.ª) em Paris
& morreu a 17 de Abril de 1696 (3.ª-f.ª) no Château de Grignan (Drône).
Charles-Marc
des Granges – n. 15-3-1861 (6.ª-f.ª) & m. 14-6-1944 (4.ª-f.ª). Era portanto
vivo ainda à data da oferenda de Helen a Arminda.
Alexandre
Hatier – livreiro & editor francês, n. em Ambonville a 9-7-1856 (4.ª-f.ª)
& m. em Périgeux a 13-7-1928 (6.ª-f.ª).
Charles-Augustin
Sainte-Beuve – historiador & crítico literário francês, n. em
Boulogne-sur-Mer a 23-12-1804 (domingo) & m. em Paris a 13-10-1869
(4.ª-f.ª).
António
Sérgio de Sousa Júnior – pensador, pedagogo, professor, historiador, ensaísta,
democrata português, n. em Damão a 3-9-1883 (2.ª-f.ª) & m. em Lisboa a
24-1-1969 (6.ª-f.ª).
Ernest
Flammarion – editor francês, n. em Val-de-Meuse a 30-5-1846 (sábado) & m.
em Paris a 21-1-1936 (3.ª-f.ª).
Eduardo
Guerra Carneiro – escritor & jornalista português, n. em Chaves a 4-10-1942
(domingo) & m. em Lisboa a 2-1-2004 (6-ª-f.ª).
II
Termina
aqui o espaço físico do primeiro caderno deste VinteVinte. Tenho ali um
novo do mesmo formato: capas duras & pretas, folhas quadriculadas, lápis
& canetas & afiadeiras & recargas com fartura. Enquanto dou
acabamento a este, a máquina dá-me J.S. Bach por Karl Richter – a Missa em
Si Menor, BWV 232. Podeis e deveis aproveitar a ligação seguinte
(generosamente indicada & partilhada por um melómano e youtuber
chamado Miguel Zampedri: drive.google.com/file/d/1NHA1PyyVH_v4VXsepiOab2gr9MKPWrkz/view.
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