19/09/2020

VinteVinte - 54 (integral e fim do caderno I do manuscrito)


 

54.

 

TERMINAIS DATADOS

 

Coimbra, sexta-feira, 15 de Maio de 2020

 

I

 

Tenho fundadas razões para crer ter sido em uma estância senatorial de montanha que certo livro foi oferecido por mãos senhoris & anglógrafas a mãos portuguesas & senhoris também. (Cf. fragmento em itálico da página 145 deste manuscrito, n.º IV da entrada 48).

 

To dear Maria Arminda

with much love and best

wishes for ever, ever so

many happy returns

of the day.

Helen C.O. Connor

Caramulo 17.12.41”

 

O autógrafo abria uma excelente oferta. Trata-se de um exemplar de Histoire de la Littérature Française – des origines à nos jours – Classes de Lettres et examens divers – par Ch.-M. des Granges – Professeur de Première au Lycée Charlemagne – Docteur ès Lettres – Trente-Sixième Édition Revue et Augmentée – PARIS – LIBRAIRIE A.HATIER – 8, rue d’Assas, VIe. – 1941 – Tous droits reservés.

A página titular da obra é ilustrada pela chancela da editora, cuja divisa latina (ou lema heráldico, vamos lá) é – LEGENTEM JUVO.

 

Passados 42 anos, cinco meses & 22 dias dessa Quarta-Feira-17-12-1941, dei por mim vivo em um alfarrabista desta Cidade. Era então Sexta-Feira-8-6-1984. Não, calma. Minto sem querer. Ambas as datas estão correctas. Mas não é num alfarrabista que estou nesse dia em que completo 20 anos & um mês exactos de nascido. Em vez de em alfarrabista, estou é no pavilhão representante da Imprensa Nacional Casa da Moeda na Feira do Livro de Coimbra, então realizada na Praça do Comércio, vulgo Praça Velha e/ou das Cebolas. Por cinquenta escudos, entro em posse de uma preciosidade simples: Retratos de Mulheres, de Sainte-Beuve, traduzidos por António Sérgio e publicados pela Imprensa da Universidade de Coimbra em 1932.

Passam mais 34 anos & treze dias. Continuo vivo e à procura de livros. Por um euro, torna-se meu um voluminho francês sem data à vista. A minha data é matinal: Quinta-Feira-21-6-2018. Trata-se de uma gema: Lettres Choisies de Mme. de Sévigné. A chancela é da Ernest Flammarion Éditeur – 26, Rue Racine, Paris.

 

Sumariemos: 1941, 1984, 2018. E agora 15 de Maio de 2020. “Isto anda tudo ligado”, como em 1970 nos ensinou o esquecido & malogrado Eduardo Guerra Carneiro (1942-2004). E ligado como? Ligado assim: há dez dias, 5 do corrente Maio deste Ano VinteVinte, pus-me a ler de uma assentada os tais sainte-beuveanos retratos mulheris que António Sérgio trasladou do Francês para a nossa Língua. O segundo desses esquissos ligeiritos (pp. 27-53) é dedicado à Madame de Sévigné (1626-1696). Tal leitura fez-me apetite para as Lettres da senhora. Antes de botar-me a elas, porém, enriqueci-me na tal prenda de Helen Connor a Maria Arminda: li da 449 à 462 o que o Doutor Ch.-M- des Granges ensina a propósito da célebre epistológrafa setecentista.

 

Precisão de alguns marcos cronológicos:

 

Helen C.O. Connor – nascimento & óbito ignorados; era viva em 1941. O exemplar que ofereceu a Maria Arminda (n. & m. igualmente ignorados por mim) tem a particularidade de ter vindo a lume na capital de França quando ocupada pelos Nazis.

 

Madame (e Marquise) de Sévigné – née Marie de Rabutin-Chantal, nasceu a 5 de Fevereiro de 1626 (5.ª-f.ª) em Paris & morreu a 17 de Abril de 1696 (3.ª-f.ª) no Château de Grignan (Drône).

 

Charles-Marc des Granges – n. 15-3-1861 (6.ª-f.ª) & m. 14-6-1944 (4.ª-f.ª). Era portanto vivo ainda à data da oferenda de Helen a Arminda.

 

Alexandre Hatier – livreiro & editor francês, n. em Ambonville a 9-7-1856 (4.ª-f.ª) & m. em Périgeux a 13-7-1928 (6.ª-f.ª).

 

Charles-Augustin Sainte-Beuve – historiador & crítico literário francês, n. em Boulogne-sur-Mer a 23-12-1804 (domingo) & m. em Paris a 13-10-1869 (4.ª-f.ª).

 

António Sérgio de Sousa Júnior – pensador, pedagogo, professor, historiador, ensaísta, democrata português, n. em Damão a 3-9-1883 (2.ª-f.ª) & m. em Lisboa a 24-1-1969 (6.ª-f.ª).

 

Ernest Flammarion – editor francês, n. em Val-de-Meuse a 30-5-1846 (sábado) & m. em Paris a 21-1-1936 (3.ª-f.ª).

 

Eduardo Guerra Carneiro – escritor & jornalista português, n. em Chaves a 4-10-1942 (domingo) & m. em Lisboa a 2-1-2004 (6-ª-f.ª).

 

II

 

Termina aqui o espaço físico do primeiro caderno deste VinteVinte. Tenho ali um novo do mesmo formato: capas duras & pretas, folhas quadriculadas, lápis & canetas & afiadeiras & recargas com fartura. Enquanto dou acabamento a este, a máquina dá-me J.S. Bach por Karl Richter – a Missa em Si Menor, BWV 232. Podeis e deveis aproveitar a ligação seguinte (generosamente indicada & partilhada por um melómano e youtuber chamado Miguel Zampedri: drive.google.com/file/d/1NHA1PyyVH_v4VXsepiOab2gr9MKPWrkz/view.


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