IX
Um
quadro de fundo azul ilumina a parede última.
Painéis
acrílicos fingem-se cristal deposto na vertical.
Este
milénio é tão comezinho quão os outros.
Coube-nos
ele na rifa, extinto o não-saudoso outro.
Pirilampam
a oriente casais & póvoas sem biblioteca.
Uma
pincelada a verde demarca a zona-de-taciturnos.
Miradouro
tristonho, o rimador mobila a noite a lápis.
Eduardo
Norton Faia Norte, vidraceiro, morre aos 95.
Tânia
Raquel Mirandela Silva, bastarda, nasce amanhã.
Gostaria
de ouvir-te contar coisas antigas como novas.
Da
fenda vaginal brotamos tortulhosamente.
Ninguém
nos perguntou ou respondeu.
Parem-nos,
dão-nos um nome a que chamamos eu
–
e está tudo aleajactaest’ado. A poente,
luzicuam
póvoas & casais sem livros nem gente.
X
Pastos,
alminhas, capelas, campainhas;
abade,
regedor, vinhateiro, migrante, chocalhos;
famílias,
bênçãos, nesgas, fainas, sinos;
boeira,
enxada, arada, veiga, violinos.
Seis
da manhã já não é cedo, é hora boa.
Quase
parou, de frio, o regatito.
Junho
despede anúncios de santidade.
Engenhos
movidos a bois esmagam o linho.
Linho,
centeio veraneado, pedra com perfil de gente.
Sacha
& rega o milho, apanha a batata.
Há-de
o sol arrefecer antes que te desfeies, Maria.
Temporã
fruta, sadias raparigas, duras espigas.
Poupa
o pão, que ouro poupas.
Não
gastes tudo em vinho & vistosas roupas.
São
Miguel despede o Verão, faz a vindima.
És,
Maria, o postal mais belo do Lima.
Verde
o vinho novo, antiguece a lembrança.
Broa
de São Martinho, castanha, doba-se o linho.
Bragais
futuros hão que esperar invernos.
De
luxemburgos & brasis nem correio.
Feição
agrícola da terra ressurgente.
Alminha
do pobre com fome de gente.
Prece
ao presépio, mal não traz.
Cuida
do estudo, que és bom rapaz.
XI
Pouco
conversei com a senhoria que por meses tive em Lisboa. Era Rosa de seu nome,
irmã de uma Lucinda que amiúde a visitava, trazendo-lhe doces & paninhos
decorativos. Era senhora que pouco se movia, tal senhoria. De gordura nívea,
lenta, bonita, apreciadora de conhaque amornado em balão de cristão, perdão,
cristal. Recebia a renda em notas, não passava recibo nem queria complicações. Era
viúva de um marinheiro galego, cuja pensão a não deixou mal. Arrendava três dos
cinco quartos da casa. O meu era o da extrema do corredor, à esquerda de quem
entra(va). Sem direito a visitas, mas com direito a duche diário, luz incluída.
Era de 26 contos/mês, o arrendamento. Eu ganhava 64. Meses difìceizitos,
esses tempos lisbonenses de 1995. Já tudo lá vai, duvido de que não haja
murchado já tal Rosa. Lembrei-me hoje dela porque a toda a hora me ocorre algo
&/ou alguém. Da Alameda, mudei-me depois para a zona das ruas de São José
& Santa Marta. Estou em paz com esse já então ex-rapaz.
Sem comentários:
Enviar um comentário