O
céu de Marrazes às 6h52m de hoje
REMORSOS E
PERSPECTIVAS MATINAIS
Leiria, manhã de segunda-feira, 27 de
Agosto de 2012
De volta ao convívio da vida acordada desde
(muito) pouco depois das primeiras seis horas do dia novo – para isto: um céu
baixo, húmido, que em boa hora decidi suportar com a ajuda do casaco. Uma
lentidão nas coisas, um cenário de cores amortecidas, pardas, involuntárias:
paleta ou plétora que mais triste me resultaria não fôra a couraça da
literatura.
Devo ser o único homem visível de momento
na praceta. O resto da momentânea humanidade local é assegurado por sete
mulheres e um bambino mimado que, justamente aliás, se considera o centro do
mundo – como eu deverei já ter sido (não em vão: faz esta tarde 36 anos que me
meti de bicicleta à frente da carrinha da Aljan conduzida pelo assustado
Fernando “Músico”: tíbia e perónio direitos quebrados e expostos, mais pancada
jeitosa na cabeça, a qual parece, até hoje, nunca mais se ter remendado em
condições).
Uma senhora em artefactos de couro castanho
que lhe assentam bem: sandálias e carteira-tiracolo. Blusa tipo caqui, fazenda
verde-azeitona por calça. Reúne-se-lhe uma perua alta de cabelo
amarelo-laboratório-chimico, camisola às listras horizontais castanho-creme,
olho aguado azul, peitoral irrelevante e insalubre.
A empregada de turno é educada e ascética:
entreolhos vincado de ruga filosófico-prático-pessimista. Corpo-vareta em
magreza de guarda-chuva fechado. Atende ao balcão uma freguesa que veio ao pão
– esta, de seu lado, é uma ruiva natural cuja cabeleira jorra em cascata para
as costas bem tratadas, atingindo e molhando a cinta perfeita.
Às 9h26m sinto fome. Desarmo a tenda e
torno a casa sem remorsos nem expectativas.
2 comentários:
Deixa-me sempre com vontade de ler mais! Grrr! looL!
Merci, Kari.
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