Para explicar o papel do Poeta João de Deus
na dissolução do ultra-romantismo luso, Teófilo Braga cita o Shelley
prefaciador de Prometeu Agrilhoado:
Um
grande poeta é uma obra-prima da Natureza, que deve impor-se e se impõe
necessariamente ao estudo de outro poeta.
Não é má (re)citação. Nada
má. Grandes ou não, poetas ou não, gente houve que ficou lacrada nos
esmaecentes sobrescritos do Tempo: Anatole France, Rouget, Rostand, Lemaître,
Balzac, Michelet, Comte, Baudelaire, Gautier, Loti, Baroja, Zola, Meredith,
Dostoievsky, Shakespeare, Doyle, Flaubert, Chateaubriand, Byron, Maxime du
Camp, Laclos, de la Rochelle, Ronsard, Gomes Leal, Ibsen, Dumas (Pai e Filho),
Camilo, Strindberg, Unset, Björnson, Suderman, Ponson du Terrail, Montépin,
Jousserandot, Hugo, Coppée, Prudhomme, Prévost, Lavedan, Lourrain, Castilho
(coitado, Teófilo “cegou-o”), Leopardi, Lamartine, Marx & Engels.
Nomes-lápides respigados da leitura do voluminho de Teófilo com concurso
insidioso da minha memória sem pragmática nem utilidade, são lápides-nomes
condenados, como todos e como tudo à consumpção bem mais do que à assumpção.
Outros nomes? Conheço. Conheço um Joaquim Álvaro da Silva Ferreira. É homem de
olhos claros como uma alvorada mal paga, uma alba sem segurança-social. Serve
de extensor humano das mangueiras de uma bomba de gasolina. Delicado – e
delic(i)ado da maravilha de estar vivo, de ter filhos da mesma mulher, de o
deixarem (pagando) habitar uma choupana de fila singular de tijoleira num
bairro dado a colômbias pós-coloniais de
moçambiciganos subsidiados pela “Esquerda”, não ele, que trabalha por
não ter etnia alguma senão esta: ser tão Joaquim e tão Ferreira como Henry foi
James e Anatole foi France e João de Deus foi. E não tarda nada é noite, é
Noite.
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