Em carta de Lisboa, 29 de Fevereiro de
1915, Pessoa diz isto ao poeta brasileiro Ronald de Carvalho (que, com Luiz de
Montalvor, foi um dos directores do primeiro – e penúltimo – número da
“escandalosa” revista modernista Orpheu):
Não
sei que lhe diga do seu livro, que seja bem um ajuste entre a minha
sensibilidade e a minha inteligência. Ele é deveras a obra de um Poeta, mas não
ainda de um Poeta que se encontrasse, se é que um Poeta não é,
fundamentalmente, alguém que nunca se encontra. Há imperfeições e inacabamentos
nos seus versos. Vêem-se ainda entre as flores as marcas das suas passadas. Não
se deveriam ver. De Poeta deve ser o ter passado sem outro vestígio que
permanecerem as rosas. Para quê os ramos quebrados, ainda, e partido o caule
das violetas?
E ensina-lhe isto de borla:
O
Poeta é o que sempre excede aquilo que pode fazer (…) Exija de si o que sabe
que não poderá fazer. Não é outro o caminho da Beleza.
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