Um detalhe das possibilidades da manhã: não
ler o Correio da Manhã mas sim, depois,
de Teófilo zurzindo Antero, a carta que em Lisboa Fernando Pessoa escreve, a 24
de Junho de 1926, à tia materna, a Tia Anica (D. Ana Luísa Pinheiro Nogueira).
Depois de lhe revelar que
Aí
por fins de Março (se não me engano) comecei a ser médium. Imagine!
Pessoa assenta que
Há
momentos, por exemplo, em que tenho perfeitamente alvoradas (?) de “visão
etérica” – em que vejo a “aura magnética” de algumas pessoas, e, sobretudo, a
minha ao espelho e, no escuro, irradiando-me das mãos. Não é alucinação porque
o que eu vejo outros vêem-no, pelo menos, um outro, com qualidades destas mais
desenvolvidas. Cheguei, num momento feliz de visão etérica, a ver na Brasileira
do Rossio, de manhã, as
costelas de um indivíduo através do fato e da pele. Isto é que é a visão etérica em seu pleno grau. Chegarei eu a tê-la
realmente, isto é, mais nítida e sempre que quiser?
E conta mais:
Perguntará
a Tia Anica em que é que isto me perturba, e em que é que estes fenómenos –
aliás ainda tão rudimentares – me incomodam? Não é o susto. Há mais curiosidade
do que susto, ainda que haja às vezes cousas que metem um certo respeito, como
quando, várias vezes, olhando para o espelho, a minha cara desaparece e me
surge um fácies de homem de barbas, ou um outro qualquer (são quatro, ao todo,
os que assim me aparecem).
Por mim, quanta mediunidade posso – é esta
de copiar o que ele escreveu em (primeira) Pessoa.
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