25/08/2012

CARTA DE PESSOA À TIA ANICA no IDEÁRIO DE COIMBRA - 34 - Coimbra, quarta-feira, 7 de Julho de 2010




Um detalhe das possibilidades da manhã: não ler o Correio da Manhã mas sim, depois, de Teófilo zurzindo Antero, a carta que em Lisboa Fernando Pessoa escreve, a 24 de Junho de 1926, à tia materna, a Tia Anica (D. Ana Luísa Pinheiro Nogueira). Depois de lhe revelar que

Aí por fins de Março (se não me engano) comecei a ser médium. Imagine!

Pessoa assenta que

Há momentos, por exemplo, em que tenho perfeitamente alvoradas (?) de “visão etérica” – em que vejo a “aura magnética” de algumas pessoas, e, sobretudo, a minha ao espelho e, no escuro, irradiando-me das mãos. Não é alucinação porque o que eu vejo outros vêem-no, pelo menos, um outro, com qualidades destas mais desenvolvidas. Cheguei, num momento feliz de visão etérica, a ver na Brasileira do Rossio, de manhã, as costelas de um indivíduo através do fato e da pele. Isto é que é a visão etérica em seu pleno grau. Chegarei eu a tê-la realmente, isto é, mais nítida e sempre que quiser?

E conta mais:

Perguntará a Tia Anica em que é que isto me perturba, e em que é que estes fenómenos – aliás ainda tão rudimentares – me incomodam? Não é o susto. Há mais curiosidade do que susto, ainda que haja às vezes cousas que metem um certo respeito, como quando, várias vezes, olhando para o espelho, a minha cara desaparece e me surge um fácies de homem de barbas, ou um outro qualquer (são quatro, ao todo, os que assim me aparecem).

Por mim, quanta mediunidade posso – é esta de copiar o que ele escreveu em (primeira) Pessoa. 

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Canzoada Assaltante