01/02/2010

Ou Matam os Anjos ou os Anjos Matam-se


Ian Curtis vivo



  Benno Ohnesorg morto




Souto, Casa, 1 de Fevereiro de 2010

Pois foi, no segundo dia de Junho de 1967 a polícia lá assassinou Benno Ohnesorg. O canalha do Xá da Pérsia vinha estadovisitar a República Federal Alemã mais a parva da mulher. E deram-lhes bilhetes para A Flauta Mágica, que ia na Deutsche Oper. Só anos depois o cancro limpou a nódoa do palhaço-rico Reza Pahlavi, demorou o seu tempo mas limpou. O crime do paisana Karl-Heinz Kurras na Krumme Strasse 66 é folheto do turismo ocidental. Kurras foi ilibado, Benno foi morto.
Assistir ao renascimento da luz dentro da floresta é uma magia acessível a pobres. Trechos de música animal reinventam as cores auditivas olhos adentro. A pessoa isola-se, insula-se na floresta que amanhece e então a pessoa é íntegra. Em torno, longe, os destroços explosivos do mundo apodrecem lagoas, devastam até a pedra. Aqui, aqui não. A música renasce feita luz. Aves nadam o primeiro anil. O nascituro de Benno Ohnesorg já terá entretanto completado quatro décadas de vida.
A noite perpétua da História vive muito de assassínios fundamentados na moral. O Sol insiste porém em suas pinturas mais para lá do humano. Ele dardeja lentes de montanha óptica. Quem lhe lembraria Jimmy Little numa tarde de 1940, quem quer ainda saber dos pilotos da RAF que deram corpo e asas ao céu infestado de nazis voadores? Que Lua escritora traria de novo à vida o anjo Ian Curtis? Cadernetas de contabilista marcam as datas duras: 15 de Julho de 1956 — 18 de Maio de 1980). O cérebro mata muito, também o cérebro mata muito, não só os cães-polícias. O Esquizo-Mor, vulgo Deus, gosta da fruta, dos mortos pelo chão das cidades. Por isso as últimas pessoas se insulam nas florestas, por isso procuram no mar o chão firme.
A esta hora mesma, as administrações multinacionais continuam a urdir o genocídio da pobreza mundial. Fortunas rápidas para edificação de mansões com piscininhas azulinhas em formatinho de rim para dar banho às putas alugadas, dubais e condomínios guardados a metralhadora nos brasis, fábricas fechadas de repente em falências tão fraudulentas quanto os vaticanos de cá e de lá, o papismo obsceno de tanta jóia, tanto preto agalinhado para esgaravatar diamantes de sangue, tanta alma doente, umas de versos, outras de pólvora. Género e degeneração: humanidade. E os anjos na floresta, apenas gente a abater, bennoianbennoian.

2 comentários:

Stormwatch disse...

Kurras era agente da Stasi.

Daniel Abrunheiro disse...

De Leste ou de Oeste, é um assassino.

Canzoada Assaltante