Duo Ouro Branco
Portantos a gente nascemos e os que a gente temos como pais criam-nos para sermos James Bonds, mas prontos, a vida torna-nos a quase todos assim tipo Zezés Camarinhas. Com os desgostos, prontos, vamos ficando amargos e frios como as amarguinhas, que também são passas do All-Garve como o Zezé Camarinhas.
A mim ontem deu-me assim um bocado pr’amargura e pr’amarguinha porque fazia 23 anos que morreu o Zeca Afonso, que é um cantor que me habituei a gostar porque se ouvia lá em casa no transístor, embora as letras ainda hoje não se percebam todas assim muito bem, mas era fixe porque era o 25 dabril e assim. Mas não foi por isso, foi porque vieram-me dizer que o Janita irmão do Vitorino e a Filipa Pais que começou muito nova a cantar com o Vitorino vão cantar coisas do Duo Ouro Negro que também já morreram como o Zeca mas a gente achamos que não deixaram discos que se pareçam apesar do Zeca também ter andado em África, só que o Zeca andou em África mas não foi a ser salazarista nem gostava que aquilo fosse colónias. E agora o Janita e a Filipa mais dois coisos da lusofonia, que é como agora a gente dizemos o português engraçado das telenovelas, vão cantar a muxima aué e vou levar-te comigo e tal como antigamente quando a Simone ainda tinha voz e o Tony de Matos ia aos cabarés de Moçambique e toda a gente fazia música revolucionária mas só se soube depois quando era seguro, todos menos o Zeca, mas esse morreu fez ontem 23 anos. Como os do Ouro Negro s’aguentaram mais um bocado e sempre é preciso comer, o Janita e a Filipa Pais agora vão, prontos, é assim, vão cantar as coisas tão étnicas de Angola do Raul Indipwo e do Milo, que foi o que morreu primeiro mas já depois do 25 dabril, ouvia-se muito no transístor lá de casa, até mais que o Zeca depois do outro 25, o de Novembro, que ficou para sempre na nossa democracia como o que vale, se calhar por isso é que agora o Janita e a Filipa e a lusofonia vão levar-te comigo à muxima, que é como se diz coração e nossa-senhora-da-conceição em kimbundu, que é como se fosse português como se escreve agora pelas telenovelas camarinho-brasileiras.
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