Louriçal, noite de 18 de Fevereiro de 2010
Um dia na vida é noite clara,
não longe daqui pernoitam friezas.
O frio é puro. Se conta tristezas,
conta-as rosto a rosto, di-las cara a cara.
O rio é vidro, é veia à Lua.
Cabelo comprido é seu salgueiral.
É um breve rio, fio de Portugal,
que é a minha terra e a tua.
Uma noite na morte é escuro dia,
mas mais p’ra quem fica do que para quem vai.
O neto há-de ir, o filho está indo, ido é o pai.
Faz-se vida a noite um dia.
Faz-se vida a noite um dia.
Um dia de cada vez, uma vida cada voz.
Acontece a todos nós, de facto e todavia.
Em Portugal, o frio da vida faz parte da bandeira.
O Sol é magnífico, mas nem sempre nacional.
Há vidas cujo sol dura a vida inteira.
De poucas assim há registo em Portugal.
Nas vilas os plátanos enrijam sozinhos.
Em sonhos, os tigres devoram-nos os gatos.
Os pobres que os têm, dão corda aos sapatos.
Chama-se emigração, do pão soldadinhos.
É um país triste, cheio de gentalha que ri.
Não cuida da Língua mas tem telemóvel.
O avô tem mula; o neto, automóvel.
É um país triste contente de si.
Uma noite é quanto dia por aqui há.
Há parques de merendas e acordeões.
Na câmara manda o parolo-rajá.
Raspa-se a micose à flor dos colhões.
Ao frio estas praças sonhadas em vilas.
Lagartos transidos ao sol tão lunar.
A fábrica de telha, os velhos em filas
desde as cinco-matina, doutor, consultar.
À farmàciazita, lustral merceeiro
de pilhas, pastilhas, mentol para a artrose.
Co’ povo, carago!, ai que ninguém goze,
o rio nem é rio, é só um ribeiro.
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