Souto, Casa (I), e Café Ripa, Pombal (II a VII), tarde e noite de 28 de Fevereiro de 2010
“Vive-se de pouco, um pouco de tudo, nunca muito de nada (…)”
Eugénio Lisboa, A VOZ CICIADA (Ensaio de leitura da poesia de Rui Knopfli), Agosto de 1977 (sobre 1972 e 1973), posfácio a O ESCRIBA ACOCORADO, Rui Knopfli, Círculo de Poesia / Moraes Editores, Lisboa, 1978
I
O morto futuro vive agora em cada vivo.
Violento violeta aura o passeio, o perfil dos prédios.
É pelo sábado afora, tem faltado a luz.
Só a beleza e a desesperança não dormem.
Claros foram sempre os sinais da escuridão emanados.
Estes homens são polícias, rouba-os o Tempo.
Não podem prendê-Lo, coitados, passar-Lhe um auto.
Ninguém, suponho, nas praias.
Afinal nascer era para isto.
Depois de chover, baço o céu, os ramos das oliveiras escrevem.
No Japão as casas são de papel, a minha também.
Às vezes vou ver os comboios, sólidos rios de ferro.
As mulheres são todas floristas, botânicas todas.
Em Viseu pelo menos eram, em Pombal é igual.
Fervi água, a água a ferver toca a voz da chuva dentro de casa.
Outras vezes o silêncio da casa é todo Garbarek na cabeça.
O vento dá nas cordas da roupa, as camisas dançam crucificadamente.
Conheci os homens, mulheres os detinham e alimentavam.
Sempre assim foi, mais o acho quão mais os leio.
Lojas abrem falência, da rua vistas são mais tristes as prateleiras vazias.
Aves exóticas, os casais estrangeiros visitam o nosso sul irremediável, a nossa tauromaquia obsoleta, os nossos resortes de imitação-dubai.
Sábado adentro, os futuros defuntos presentemente.
Proíbam os tigres de circo, não os de cama.
Verifico e versifico as leis, não sirvo para mais nada.
Linhas altas levam o olhá-las de baixo.
Agora não é Setembro, nada doura nem arruiva, os sucessivos céus metalizam os dias, pernas nervosas varam o vento violento como a sanguínea violeta é cor ou flor ou ferramenta de música, o sábado é um pano molhado atirado à cara, casais caiados demoram um pouco mais a eternidade, esquecer ajuda a sobrevivência dos mais felizes.
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