Souto, Casa, madrugada de 18 de Fevereiro de 2010
Tive a visão de uma sala de aula de dactilografia. Era o fim da sessão, dois terços da classe tinham já saído. O professor assinava o livro-de-ponto sentado à secretária de madeira velha. Seis alunas acabavam de cobrir as máquinas-de-escrever com as lonas que tinham escrito Underwood. Depois, deixei de ver isto. Estive uma meia hora sem ver nada para além da minha própria sala. Então, vi um parque de estacionamento no estrangeiro. Finlândia ou Noruega. Noite alta, poucos carros e muita neve. Candeeiros pálidos, lívidos, quatro. Depois, aquilo dissipou-se em proveito de um quarto de motel muito decadente. A cama por abrir, a luz da casa-de-banho coada pela porta entreaberta, movimentos de silhueta de sexo indeterminado tomando duche. Som do telefone na mesinha-de-cabeceira. Antes que o ou a ocupante do quarto atendesse, a visão acabou. Fez-se manhã. Acordei como se nascesse já com uma língua. Era diferente da primeira vez – ou do que me contaram do primeiro nascimento. O quarto erguia-se pela luz inicial. Era muito cedo, antes ainda das sete. Se não tivesse anotado alguma coisa, teria perdido a silhueta no motel, as alunas-dactilógrafas, os carros noruegueses ou finlandeses. Não teria perdido a sala. A sala está ali sempre, não aparece nas visões – mas à vista desarmada.
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