Pombal, tarde de 24 de Maio de 2010
Mulheres (duas) cortam o cabelo a outras tantas, oito com o espelho. São maduras como pêssegos loiros, as cortadeiras. Emanam calor e perfume fortes. É num salão que dá para o largo onde as laranjeiras brilham, loiras elas também, mas de um loiro sem outra força de secador que a do Sol. Um vendedor de loções espera vez de ser atendido pela chefe. Meio mundo e mais meio. O vendedor é um maduro de ar triste e casaco azul-escuro. Máscaras de creme, fixadores, placas de alisamento, madeixas de tinta, mises-en-scène, mas, brusca, a cena do cabeleireiro é trocada pela da casa-de-pasto.
Homens (dois) jarram tintura ante uma escudela de tremoços amanhados a alho. Porcinam orelha mui reformadamente. São a delícia melancólica de quem os lapija. A senhora aviadora é corada como uma romã das da infância. Há Dobrada. Um cigano velho graceja romanicamente para ninguém. Há um pequenino de setentas e tais, bigode branco, sem queixo, um penso-barba colado à flor da boca. Sol quase fresco no ocaso de Maio. Homens, mais homens. Os jogadores de cartas granadam falangetas no reservado.
Muitos homens e muitas mulheres, pessoas nem tantas assim.
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