Cinzas
Desconfiei sempre da folia organizada. Isto é, da folia institucionalizada e respeitável, cujo calendário pode implicar (e geralmente implica) consequências e cinzas tão graves como Alberto João Jardim.
Desconfiei sempre da folia organizada. Isto é, da folia institucionalizada e respeitável, cujo calendário pode implicar (e geralmente implica) consequências e cinzas tão graves como Alberto João Jardim.
O Carnaval deve começar por ser minúsculo. Ou seja: pessoal e intransmissível como a peça de roupa que algodoamos entre partes e calças. Já há folia suficiente nas minúcias com que levamos a vida.
Exemplos: quero um isqueiro amarelo, apesar de todo o arco-íris faiscar; prefiro enquadrar palavras cruzadas a cruzar palavras com gente quadrada; transporto no bolso um livro que não vou acabar de ler porque ando a fazer os possíveis para ser atropelado numa passadeira.Em suma, não alinho em carnavais alheios. Chega-me bem conseguir adormecer em autocarros e almoços, de garfo hirto numa mão que treme. O meu carnaval individual é quanto (me) basta para perceber que a loucura é séria de mais para ser partilhada. Não me estou a rir.
Ainda por cima, antigamente os dois dias da vida só ficavam a perder por um para os três do Carnaval. Agora, o Carnaval tomou conta do resto dos dias com suas noites. A Tragicomédia do Rei Momo por aí grassa sem graça: é ligar o televisor, é ler o desaforo e o assanhado da Câncio, anti-Crespo, a defender o indefensável: o mais-que-tudo-dela, naturalmente. Sim, a folia implica coisas que tais: está na cara das pessoas sem rosto.
Para me proteger das usuras folionas com artistazecos tuga-brasucas empoleirados em tractores alugados pelos parolos dos municípios, releio em clausura o meu santo Eça, redescubro o Canadá pela mãos dos historiadores da Nova França, pondero o meu Rilke, reaprendo português com Antero de Figueiredo e não dou confiança a engraçados boviniformes pelo lado pior da vaca.
E assim farei até que a vaca tussa, que pelo menos a jardim da Madeira nunca chegarei.
Exemplos: quero um isqueiro amarelo, apesar de todo o arco-íris faiscar; prefiro enquadrar palavras cruzadas a cruzar palavras com gente quadrada; transporto no bolso um livro que não vou acabar de ler porque ando a fazer os possíveis para ser atropelado numa passadeira.Em suma, não alinho em carnavais alheios. Chega-me bem conseguir adormecer em autocarros e almoços, de garfo hirto numa mão que treme. O meu carnaval individual é quanto (me) basta para perceber que a loucura é séria de mais para ser partilhada. Não me estou a rir.
Ainda por cima, antigamente os dois dias da vida só ficavam a perder por um para os três do Carnaval. Agora, o Carnaval tomou conta do resto dos dias com suas noites. A Tragicomédia do Rei Momo por aí grassa sem graça: é ligar o televisor, é ler o desaforo e o assanhado da Câncio, anti-Crespo, a defender o indefensável: o mais-que-tudo-dela, naturalmente. Sim, a folia implica coisas que tais: está na cara das pessoas sem rosto.
Para me proteger das usuras folionas com artistazecos tuga-brasucas empoleirados em tractores alugados pelos parolos dos municípios, releio em clausura o meu santo Eça, redescubro o Canadá pela mãos dos historiadores da Nova França, pondero o meu Rilke, reaprendo português com Antero de Figueiredo e não dou confiança a engraçados boviniformes pelo lado pior da vaca.
E assim farei até que a vaca tussa, que pelo menos a jardim da Madeira nunca chegarei.
2 comentários:
De Santo o Eça tinha pouco. Mas estás em boa companhia.
Quanto às folias organizadas, estamos conversados. Esta gente nunca leu um senhor chamado Backtine.
Carnaval só o de Praça Pública e com todos a participar.
o jardim da madeira é maravilhoso de belo, mas só esse, porque o homem que tem jardim por apelido não me interessa nada. um beijo, daniel. bom fim de semana!
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