Washington, Marselha e Caldas da Rainha
Dois altos cargos da nova administração norte-americana renunciaram às nomeações por comprovada evasão fiscal. Obama assumiu publicamente um mea culpa que só lhe fica bem. O exemplo, por cá, não pega. Ministro que hoje negoceie dinheiros e interesses do erário público com mega-empreiteiros amigalhaços, amanhã, saindo de ministro, é administrador, executivo ou honorário, do ex-cliente. Corre, coelho, como diria o recentemente falecido John Updike.
Em Marselha, um chico-pouco-esperto lembrou-se de assaltar um banco. (Ainda há quem pense que um banco se rouba por fora…) Vai daí, arrendou a casa ao lado e botou-se a escavar, a escavar, a escavar. Escavou, escavou, escavou. Ao emergir do outro lado, pôs a cabecinha estúpida de fora. Era na casa-de-banho que estava, não no desejado cubículo do cofre. Foi preso, o burro. Cá, faziam-no, no mínimo, assessor. Levavam-no ao Cocorós & Contras e tudo, aposto.
Nas Caldas da Rainha, uma mulher de 90 anos (noventa, sim) anda no mercado local a tentar vender pensos rápidos. Com 200 euros (duzentos, sim) de reforma, claro que não ganha para os medicamentos nem para comer nem para a renda da casa, que partilha com um filho velho também reformado. Como a nonagenária senhora não é de uma “etnia” qualquer, paga. Como não é da Covilhã, paga. Trabalhou anos a fio numa escola. Não consta que tenha roubado nada nem ninguém. Não andou para aí a jurar bandeiras nem a esmurrar honras peitorais. Descontou o que era devido. E agora isto.
Não é o penso que é rápido: é a ferida que é lenta. A ferida deste país sem consciência, sem vergonha, sem espelho e sem remédio.
Corre, coelho.
Dois altos cargos da nova administração norte-americana renunciaram às nomeações por comprovada evasão fiscal. Obama assumiu publicamente um mea culpa que só lhe fica bem. O exemplo, por cá, não pega. Ministro que hoje negoceie dinheiros e interesses do erário público com mega-empreiteiros amigalhaços, amanhã, saindo de ministro, é administrador, executivo ou honorário, do ex-cliente. Corre, coelho, como diria o recentemente falecido John Updike.
Em Marselha, um chico-pouco-esperto lembrou-se de assaltar um banco. (Ainda há quem pense que um banco se rouba por fora…) Vai daí, arrendou a casa ao lado e botou-se a escavar, a escavar, a escavar. Escavou, escavou, escavou. Ao emergir do outro lado, pôs a cabecinha estúpida de fora. Era na casa-de-banho que estava, não no desejado cubículo do cofre. Foi preso, o burro. Cá, faziam-no, no mínimo, assessor. Levavam-no ao Cocorós & Contras e tudo, aposto.
Nas Caldas da Rainha, uma mulher de 90 anos (noventa, sim) anda no mercado local a tentar vender pensos rápidos. Com 200 euros (duzentos, sim) de reforma, claro que não ganha para os medicamentos nem para comer nem para a renda da casa, que partilha com um filho velho também reformado. Como a nonagenária senhora não é de uma “etnia” qualquer, paga. Como não é da Covilhã, paga. Trabalhou anos a fio numa escola. Não consta que tenha roubado nada nem ninguém. Não andou para aí a jurar bandeiras nem a esmurrar honras peitorais. Descontou o que era devido. E agora isto.
Não é o penso que é rápido: é a ferida que é lenta. A ferida deste país sem consciência, sem vergonha, sem espelho e sem remédio.
Corre, coelho.
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