Souto, Casa, manhã de 26 de Fevereiro de 2009
I
O fio da boca existe mas não é / é mas não existe.
A voz da flor é a cor.
O fio da voz é a flor.
A pessoa encontra-se na pessoa como o mar na praia.
A praia da pessoa é mais e é menos que a areia da pessoa.
O sarar da ferida também é ferida / também é mais e é menos.
Ser compreende não-ser e nem-ser e nem-sempre-ser-nunca.
As coisas do mundo são também a pessoa e também
mais e menos que ela.
Nela e fora-dela.
A boca / a flor / a pessoa: mar e areia: praia e além-de-praia.
E aquém.
II
O caminho é horizontal no vivo / é vertical no morto.
A posição do infante no berço é guardada pelas árvores do caminho.
Assim noutra linha a do defunto na caixa.
Um ainda não é.
Outro não é já.
Ambos são mas não existem / ambos existem mas não são.
Um lábio da boca é vivo.
Outro não.
O fio da boca é o fio da navalha.
A boca não é sozinha.
O caminho resulta da boca / a boca existe a caminho.
III
Luz do sol numa janela.
A outra janela em sombra.
Tudo é manhã / não é / mas é.
A manhã que foi na noite que vai ser.
Nisto, a areia.
IV
Nisto, a árvore sara.
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