União - 8
Sábado, 8 de Janeiro de 2022
O
Clube de Futebol União de Coimbra foi oficialmente registado ao segundo dia de
Junho de 1919. É o emblema da maior afeição desportiva de Rui Fabrício de Cal
Moleiro. (Sim, o mesmo Moleiro que lamenta indeferir – mas terminantemente
indefere – o pedido de albergue/sofá que lhe fez chegar um desventurado, por
mais amigo. O indeferimento fica registado no Sábado, 8 de Janeiro, mas foi
proferido a 4, 3.ª-Feira.)
O
União é a insígnia dos não-doutores de Coimbra: clube, portanto, de uma minoria
local, dada a esmagadora - ou pretensa – massa de doutorados da/na urbe. Operários,
futricas, mais ou menos copofonistas, recepcionistas, electricistas, bate-chapas,
coveiros, canalizadores, baristas, estacionadores, ciclistas, escrivães, fazedores
de pães – e até algumas senhoras: Vai Tudo!
O
campo é na Arregaça, arrabalde afinal central da anónima massa urbana que faz,
da Portela, a Figueira possível. As cores são o azul e o encarnado-robusto. O
adepto-mediano? São-no todos, incluindo alguns deveras doutores que se não
deixaram seduzir pela sereia-académica. A glória vivida ao longo de um século inclui
derrotas. Nem de outro modo poderia ser: os Unionistas sabem que da farinha de
viver se não faz panis angelicus.
Tal
como a devoção à formosa & segura Rainha Santa, a devoção ao União não é
profana. É mais uma fé grande num deus que todos sabem pequeno. Em Coimbra, ser
do União não é como ser de Os Belenenses em Lisboa: porque ser Unionista é ser
segundo para ninguém, quanto mais terceiro.
O
unionismo de Rui Fabrício é o mesmo de Alfredo Bonacho, José Carvalho, Augusto
Gonçalves e João Maio. Depois do jogo ao domingo, vai tudo merendar ou
ao Katekero em Ceira ou ao Leitito na Pedrulha ou ao Olímpio em Antuzede ou ao
Progresso na Adémia: malgas de rancho ou feijoada, posta de bacalhau assado,
enguias (no neves da Adémia ou no Piçalhudo da Cidreira), punheta alhad’avinagrada
– e tudo regado a carrascão do mais tinto.
Era
na Avenida Emídio Navarro, face ao Parque-Jardim Dr. Manuel Braga, face ao
Mondego cantado por Camões, por José Afonso & por Alberto Ribeiro – et alii.
A sede era na Emídio Navarro. Já tínheis passado, no sentido Portagem-Brasil, o
Hotel Avenida, a Agência Franco e a Foto Rasteiro. Era ali. E ali foram
escritos, por um outro Unionista, versos merecedores talvez de registo civil, cívico
e civilizado:
Péricles, versejando - 9
Sábado, 8 de Janeiro de 2022
A
morte não diz talvez.
A
vida sim, mui tal vez diz.
É
conforme a sensatez.
Sou
Vermonte & d’Assis.
Chamado
à colação,
sei
(por força de ofício)
do
Sr. Rui a afeição,
União
de sô Fabrício.
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