22/07/2021

PARNADA IDEMUNO - 666 a 668



666

Quarta-feira,
21 de Julho de 2021

    Tenho por certo pobreza não ser obrigatório sinónimo de miséria – de afim modo, abastança não é automaticamente riqueza; nem abundância, esplendor; nem fortuna, ventura.
    No primeiro parágrafo, minudências minhas – sem especial interesse para consumo fora desta casa. Minudências são coisa que me não escasseia. Uma mais: a memória é mais criadora do que acumuladora; mais fábrica do que armazém. Outra: há no corpo masculino certa parte (ou peça) que em tempos se fazia dobro mas agora se faz dobra – é a peça, precisamente. Como disse, não me falam máximas (inutilidades). Também o seguinte não é mentira: tenho entretido bem a clausura. Vi Jean Gabin. Vi o Tarkovsky de Nostalghia. Vi Adam Ant. Os meus óculos têm trabalhado, sim.
    Lá fora, no mundo tão mais vasto quão mor a demanda, estraleja o senhor Sol. Reixas apertadas, cerradas & abatidas. Em casa, uma atmosfera monástica, propícia a sestas de fármaca brancura. Fiz a minha até passadas as dezoito, sim-senhores. Folheei pintura, mormente da multissecular: é Beleza transdérmica, beneficia o sangue, não deixa pensar (mal de) outras coisas, gentes, situações, tumores sem lanceta possível.
    Este quarto parágrafo do diabólico número, dedico-o à terminação mais contundente, ou antes, conclu’contun’dente deste sabor a nada à boca do coração, pim, pim, pimpalão.

667

Filtro apropriado à desenvoltura do curso
Automático, enredado desperdício malsão
Cada dia a-haver é em si raro recurso
Não se escapa jamais à própria condição.

668

Se alguma vez foi o caso – já não assim é.
Nenhuma justificação a dar – e ao desbarato, muito menos.
Nem a próximos (-orientes), nem a distantes (-oestes).
Esta foi uma quarta-feira dotada: de calmaria mormente.
Uma pessoa aprende a ser pessoa, o processo dura uma vida.
Morre-se mais ou menos quando já se não pode aplicar o aprendido.
Não é grave – o que tem de ser, é; o que não tiver, não conta.
Hoje (falo já no pretérito, pois que desceu já a noite), hoje foi.
Partilho a existência do meu Gato, miro-o sendo-se.
Gostaria de proporcionar-lhe um quintal, erva, gafanhotos.
Não posso. Só posso isto. É o nosso mosteiro, este T-não-sei-quê.

Sem fim à vista, as diversas crises rotinam-se como neonormalidade.
A sanitário-viral (da China provinda, não o esqueçamos) segue matando.
A climática – já o disse, bem sei – só não me faz rir porque há crianças.
A humana escumalha – é redundância tautológica.
A humana excelência – não é redundante, é preciosa por incomum.
Vi o corvo, andorinhas excitavam o entardenoitecer, o último pardal.
Depois a tinta da noite tomou conta & recado deste recato contado.
Tudo configurando a novidade antiga, percebeis-me muito bem, bem sei.
As coisas-comigo já têm tripulação q.b.
As alheias, umas deveras importam – poucas; outras, muitas, não.
É assim que tem de ser, ninguém nos mandatou a pancuidadores.
Escusado resulta arregalar os olhos tipo bonecos-animados made in Japan.


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Canzoada Assaltante