© Varela Pècurto
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Domingo,
11 de Julho de 2021
Faço que & quanto posso para impedir que a superficialidade & a frivolidade não tomem de assalto o produto papeleiro que diariamente babujo. Tenho sempre tal em mente. Já encontrei coisas não-superficiais & não-frívolas. Fui por elas. Ainda vou.
No entretanto, abriu-se às sete da manhã o Domingo. Enquanto dactilografava, Vivaldi revivia. Maravilha. Muita gente por o mundo o tem por tesouro seguro. A música (digo: a Música) dele continua a florescer em milagre quotidiano. Com a nova maquinaria do século XXI, é imediatamente gratificante & gratificantemente imediato o acesso à Obra descomunal deste homem ímpar.
Ao cabo da dactilografia, boto-me a ler uma colecção de trechos que juncam a caixa encarnada (de papelão sapateiro) ao canto do sofá. É material de diversas espécie & índole. Às nove horas, repouso um pouco as oftálmicas. Mas Vivaldi ainda não pousou o arco, felizmente.
E depois vejo & ouço Adele Dixon cantando Magic Rays of Light. É já na plenitude vesperal do Domingo, o programa é agradável. Depois, um plano (breve) de Berlin/1930. As máquinas-do-tempo trabalham em quase-perfeito silêncio, o que as não impede de fazer jorrar (as) História(s). Atrai-me compreender o que no passado pensavam do futuro. Os sinais/indícios maturam a compreensão. Adele Dixon terminou a canção, Berlin já atravessou mais 91 anos.
Por outro canal, vi o nadador no lago da montanha. Acercou-se-lhe depois a nadadora. São pessoas que têm & mantêm ali perto um bungalow. Sempre que podem, desertam da Cidade & instalam-se naquele reduto basicamente apetrechado. Podem fazê-lo, fazem-no. Não por escapismo – mas por reencontro consigo mesmos em um ambiente não-degradado.
Em carreira de três horas, segue destino o professor de Desenho. Tem mais quatro de contrato – depois se verá o quê, para onde, não interessa. Ele não antecipa. Vai sendo, acontecendo, desenhand’andando. É esperto, não é frívolo nem se fi(c)a pelas/nas aparências, desenha em profundidade & altura.
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Um DiMarco telefona de Veneza, atende-o em Paris a sócia Cuca. Combinam a transferência de dinheiro na quarta-feira seguinte. Desligam. DiMarco janta no hotel, Cuca sai com amigos. Enquanto se dá o telefonema acima exposto, segue de comboio, no sentido Campanhã-Santa Apolónia, Ataíde. Conseguiu chegar a tempo, por muito pouco não perdia a viagem. Ninguém o espera em Lisboa. Quando a composição pára em Coimbra-B, descem Sara & Martinho, estudante de Química ela, praticante de farmácia ele. Têm adiado o casamento por causa da praga-viral. Espera-os o pai do rapaz, ajuda a futura nora com as malas, seguem de Opel Corsa até aos Olivais, onde Sara tem quarto arrendado. À passagem pela António José de Almeida dão prioridade ao peão já a um terço da passadeira. É o velho doutor Sepúlveda, cirurgião aposentado, a caminho de Montarroio. Quando o idoso chega à porta de casa, já DiMarco se deita na seda especiosa da cama hoteleira, já Cuca decide fazer o mesmo – mas sem ser em seda & com um tal Jean-Luc, dizem que sobrinho do Alain Delon, peta recorrente dos engatatões da Ville-Lumière.
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Uma noite de tempestade impõe humildade aos pretensos donos-desta-merda-toda: os seres ditos humanos. É sensato respeitar a Natura – temê-la, não é covardia. Estragá-la, é.
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