© DA.
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Sexta-feira,
9 de Julho de 2021
No país dos carreiristas-carteiristas, encontra-se detido o presidente do meu pobre Benfica. Já preparam, os sobreviventes, a sucessão: parece que querem entregar o leme da grande barca ao Rui Costa, equívoco príncipe-real de um Clube que não deveria ser uma monarquia. Nem uma monarquia, nem uma república-de-ou-das-bananas. Mas é. E é as duas coisas, hélas!
(...)
626
A humanidade é tão capaz de um
Leonardo di Ser Piero da Vinci
quão de um
Peter Norris Dupas.
Assim é, sempre foi, há-de sempre ser.
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Em outro plano ou dimensão
Sou feliz sem pensar nisso
Talvez V. tenha sido assim também
Alguma vez no V.º caminho
Oxalá que sim.
Partes da Austrália há
Que gostaria de ver & percorrer
Da Noruega a mesma coisa
Não é provável todavia
Satisfazer tal gosto.
Neste quarto mesmo
Depravação & maravilha coexistem
Devidamente número-paginadas
Infinita criação autoral
Me entretém o purgatório.
Adriana da Caridade
Atacada sexualmente
Ante a campa da avó
Era pelas quatro da tarde
O calor sufocava o Tempo.
Gargalhadas infantis vivificam
A rua pela matina antiga
Era noutro século & eu
& eu um de tais infantes
Não me procureis senão lá & então.
Em outro plano da dimensão
Etc.
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Fulham, London.
Julho de 1986 (dia 28?).
Suzy Lamplugh desaparece.
Quem era “Mr. Kipper”?
Qual a sua realidade, além de nome na agenda de Suzy?
Ela mediava aquisições no ramo imobiliário, acho.
Enigma acrescido: o carro da desaparecida é detectado:
na Stevenage Road (SW6, London Borough of Hammersmith and Fulham).
É a milha & meia do apartamento que ela agendara para mostra.
Um chapéu da rapariga permanecia, mas sem dona, na viatura.
Matrícula desse Ford Fiesta: B396 GAN.
Não deve ter sido ela a conduzi-lo e a estacioná-lo (mal estacionado).
Carro não-trancado mas sem chaves.
Nenhum indício de luta no tal apartamento agendado.
Bonita era Suzy, de clara bonomia sorridente.
Família ingressa em desespero.
A polícia-metropolitana apela ao público para obter pistas.
Quanto mais horas/dias passam, pioram as perspect’expectativas.
Nenhum suspeito determinável, demasiados quadrados sem X.
Beco-sem-saída, especulações, o irmão Richard teme o pior.
Agonia. Desconhecimento. Um fundo caritativo é criado em seu nome.
Visa protecção-em-vida de potenciais vítimas de crime(s).
A época de 80/XX não é só charme.
Em Londres, o IRA anda activo.
Há grandes assaltos, também.
Os anos empilham-se & dissipam-se como toros apodrecidos à chuva.
Catorze anos, circa fins de 1999, inícios de 2000.
Pululam & fervilham teorias, hipóteses, especulações.
Suspeita-se de um John David Cannan.
Uma jovem de 29 anos, Shirley Banks, de Bristol, desaparecera também.
Foi em Outubro de 1987, um ano & pouco depois de Suzy.
O nome & a figura de Cannan começa a ser recorrente.
Tem olhos de tubarão, porém azuláceos: duas pedras-de-arremesso.
Na prisão, Cannan é conhecido como Kipper.
Mas o sistema permitia-lhe sair para trabalhar.
Fôra vendedor de carros, julgo.
Parecia ser de boa-compleição, vulgo eucrasia, mas de falso cavalheirismo.
Rejeitado porém, recorria à agressão sexual.
A zona de Somerset é buscada, em demanda de Suzy – em vão.
O Suzy Lamplugh Fund (Live Life Safe) ainda funciona.
Já auxiliou milhares de pessoas em risco.
Sim, a família de Suzy revirou a sua desgraça própria em graça alheia.
Os stalkers passaram a ter mais dificuldade na sua arte.
O caso continua em aberto.
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Dois homens conversam numa sala-de-projecção. Um é cinéfilo, o outro é seu fornecedor. O anfitrião, muito rico, encomenda dois filmes ao seu convidado. A sala é na cave da mansão. As películas em questão não são obras de ficção – mas sim home-made-movies. Cenas domésticas & felizes de famílias entretanto extintas. Por que as deseja o milionário, não o sabe nem quer sabê-lo o outro. Acordam o preço, que duplica se a entrega se der antes de um mês a contar desta noite. Voltarei a este assunto? Ainda não sei.
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Quando, dadas já as 23h00m, me disponho a uma hora de documentário criminal (A Surfeit of Cyanide: The Murder of William Murfitt, 1938 – by Mark John Maguire), tenho essa vagamente perturbadora sensação a que se aplica a estrangeira justaposição – déjà-vu. Depois, passa. Passo às anotações: 8h30m, 17/5/1938 (3.ªf.ª). o senhor Murffit morre de uma dose cavalar de cianeto-de-potássio, que alguém pôs na lata de sais (Fynnon Salt). O médico cheirou a lata: amêndoas-amargas, odor inequívoco. Autópsia no West Suffolk General Hospital. William M. nascera em 1882 e casara-se em 1903. Muitas fotografias. Muitos dados. Muito interessante. A última hora da sexta-feira torna-se-me, por conseguinte, boa de viver.
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