11/07/2021

PARNADA IDEMUNO - 609 & 611 (duas amostras para conclusão do 7-7-2021)

© DA.


609

    Certa ocasião, escrevi uma carta para cujas linhas jamais me chegou resposta. O Tempo encarregou-se (é deletério ofício, o dEle) de delir qualquer importância que o assunto pudesse ter. Anos volvidos, ocorreu-me de repente averiguar em torno da situação da pessoa destinatária de tal minha carta. Assim foi que soube ter ela morrido uma semana antes de eu depositar no mar a missiva que se lhe dirigia.
    Se este caderno for publicado depois da minha hora-terminal, a perspectiva será a inversa: alguém vivo lendo o que um morto teima em recordar – e que consiste em, vivo, escrever (par)a mortos.

(...)


611

    Aconchegado na cama de infante, sentia o vento despassarando a nespereira. Era por vezes forte a sério, a comoção eólica. A árvore, brava, resistia. Outras noites, o plenilúnio mercuriava a nocturnidade. Era sempre bonito, tudo – a começar pela minha idade mesma.
    Já não durmo a quatro metros da nespereira. O vento é aqui outro, como outra a idade que perfaço. Ainda a Lua dá de si – mas também essa hóstia-pomes envelheceu: já nem os astronautas a querem. Menos mal, tenho ainda cama & roupa a que me aconchegue.
    Razão tinha – e tem – o velho Lavoisier.



Sem comentários:

Canzoada Assaltante