© DA.
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Quarta-feira,
7 de Julho de 2021
Colecciono instantes de puro deleite & de imediata gratificação hedonista de que zero me arrependo. Tais momentos configuram, memoriais & memoráveis, comemoráveis & autocomemorados, toda uma galeria (alegria) por assim dizer fílmica a que retorno sempre que certa espécie de melancolia quer galgar-me. Sei-os irretornáveis – mas tal lucidez só mos agrava & entesoura. Cheiram alguns a pinhal, traspassada a hora arbórea por brisa nocturna. Rio ou mar próximos, tantas vezes também. Diversa comparticipação ofereci ao que se me dava fruir. Levar & trazer, é comércio transitário & transitório que substancia a dinâmica, agora verbalizada enfim, vivíssima.
(Com esta prosa, materializo um mecanismo/artefacto/expediente/instrumento/ferramenta/utensílio/dispositivo de sobrevivência: em fase má, recordar boa. Em fase neutra, é deixar andar.)
600
Tony de Matos interpreta uma canção a preto-e-branco.
O arquivo encontra-se em razoável condição de preservação.
Depois do cantor, um autor apresenta o seu novo livro político.
Segue-se-lhe um compositor que brilha na etnografia musical.
Mortos, todos.
Planos aéreos do Vale do Tejo, primeiro; depois, dos Campos do Mondego.
Aspectos de uma povoação de predominância agrocultivadora.
Aspectos de um bairro de predominância fabrilobreira.
Uma filarmónica: ensaio filmado conforme combinado.
Permanência & duração.
A fugacíssima actualidade tenta dar luta aos arquivos.
Mal ela sabe quão pouco de si merecerá memória-futura.
No Haiti, mataram o presidente, parece que a tiro.
Na Holanda, atentaram contra a vida de um jornalista.
Em Lisboa, detiveram o senhor que tem presidido ao SLB.
Tudo coisas a que prefiro, de longe, Tony de Matos.
Também um tal “Rei dos Frangos” foi detido.
Parece que por causa de imbróglios roubalheiro-bancários.
Aquele esquisito da art’esquisita também berlind’anda.
É a espectacularidade pindérica da corrupção-em-flor.
Tony de Matos, Artur Garcia, Rui de Mascarenhas, Carlos do Carmo
– todos são hoje arquivos-vivos de uma época.
Na correnteza das décadas, memória & esquecimento brincam.
Brincam às escondidas, jogam à macaca, ao catrapónei-vai-o-pónei.
É um esquema de marés sem lua, por assim dizer.
Hei café fresco na cozinha, a médica não mo interditou.
(Se calhar, esqueceu-se de mo dizer; e eu, táctico, de lho perguntar.)
Na mão-dextra de Tony de Matos, um belo cigarro-filtro.
Na mesinha (de ferro pintado de branco) ante si, whisky & água-gás.
E a canção diz a uma mulher que se vá a par de outra. Lindo.
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