04/07/2021

PARNADA IDEMUNO - 527 a 531 (o 532 está em revisão; há que ter calma)

© DA.


JULHO


527

Quinta-feira,
1 de Julho de 2021

Entre a marquise,
minha quieta nave,
em perene deslize,
a ave.

528

Arde o quiosque de jornais & lotarias, tabacos & águas-frias.
A amásia do grão autarca sofre de ácidas ventosidades.
Apelidos datados a mármore datam de todas as idades
– e os nomes-próprios vão de mil Josés a mil Marias.

Mais duram, oh bem mais!, os impropérios do que os impérios.
Jacuzzi não é, senhores, o libelo pró-Dreyfus de Zola!
O políticamentira-correcto é da pior merda que há
– e eu quero, não rosnar, mas saudar os homens sérios.

Causa a verdade muitas vezes dano
mas eu cá tenho muit’orgulho da minh’ascendência nórdica.
Digo eu, bisneto talvez de judeu & trineto de africano
– mas minto-me norueguês em mentirola monocórdica.

O meu primo Gilbrás é um assaz reputado pianista.
Sim, pianista; sim, primo; sim, Gilbrás & reputado.
Antes tal do que parasita e/ou repúblico deputado
– casado não sendo, dá-s’ele a ser onanista.

Pompas mais que pombas cerce & depressa se esvanecem.
Medalhetas do dez-de-junho & caramel’drops-de-limão
podem dar a muitos uma comenda & uma tesão
– mas cremados gordos ardem, dão o peido, desaparecem.

De mísera solidão (em que consiste a involuntária) padecem
Lesqueyroux, préfet de police, & Gros-Lapin, de malice commissaire.
Tivessem eles estudado, lido a fundo o bom Voltaire
– mas cremados gordos ardem, dão a peida, desaparecem.

Vou botar fogo aos quiosques.
Jamais me apanharão.
Caramel’drops-de-limão
– e ala-caniche, dou de frosques!

529

Conversei ontem a fundo com o meu Amigo Delfim Mateus.
Ele, eu & mais nove alinhávamos:
Damas; Manaca, José Carlos, Humberto Coelho & Artur;
Jordão, CR7, Yazalde & Nené;
Delfim Mateus & Eu (sébio).

530

Quero a este cais em brumas, quero.
(A ti quero também – mas não existes.)
Tristes são eles com quem persistes
acamar-te: povo, nobreza & clero.
Comigo é que não, que não espero nem desespero.

531

    Tenho em congeminação certa
    Aventura Maravilhosa de um Zé-Ninguém que nem José se Chama.
    (Já o deixei entredito no anterior 524.)
    Ando pela casa, trato do Gatito, congemino – e como sempre, menos no que contar do que no como.
    O mais certo é acabar mesclando formas: narrativa líquido-corrente entremeada de verso-rifões-refrões para cançonetas-mudas.
    Outras coisas:
    A minha materAvó Cândida Leite nasceu no hoje de há 118 anos: era quarta-feira. O futuro marido dela, Carlos dos Santos, nascera no ano anterior. Quase respiraram ao mesmo tempo que o grande Eça, defunto em 1900. À data do nascimento da minha ’Vó, tinha Fernando Pessoa 15 anos & 18 dias. Assim era. Penso muitas vezes nela. A meu materAvô, só tive por nem oito anos. Não pude conhecer os meus paterAvós. Escrevivo os quatro, todavia – é quanto posso: mas todo & cada dia.
    Faço por serenar, no sentido do muito que me falta ler & no do algo que me falta escrever. Se a morte me interrompesse agora, não lograria ela, ainda assim, cabra-do-diabo, apagar isto:
    A minha materAvó Cândida Leite nasceu
    etc.

Sem comentários:

Canzoada Assaltante