© DA.
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Sexta-feira,
16 de Julho de 2021
Peniculário dos dias, saio hoje
à caloraça doida vespertina.
Só o lio fraternal me traz à rua,
ardendo quieto (e tão mortífero)
o paterSol doidinho da cabeça.
Lá saí, pois. Estufa global, forno total, crematório bestial. Do bolso esquerdo-frontal das calças, escorre-me perna a baixo toda uma nomenclatura-numérica: derreteu-se o telemóvel, fica o chão pingado de antónios, paulas, joões, marias, 91s, 96s, o diabo-a-quatro-pintando-o-sete. Era um tm ainda carregável a gasolina como os isqueiros (de livrete licenciado) dos antigamentes. Mela-se-me & cresta-se-me o coco-cocuruto craniano-mioleiro. Dardeja nele o inclemente astro-régio. Ocorre-me que nem sempre os antónimos equivalem a diametrais oposições e/ou desavindas contrariedades – pois não é o perigo-de-vida o mesmo que o perigo-de-morte? Antes de aforar o palácio, adentrei o sanitário. Da gaveta de mèzinhas, extraí determinado unguento com largo espectro de acção cicatrizante – o Gato arranhou-me o costado da mão-dextra. Ora, opinei sempre que cautela & cautério são para usar a sério, raciocínio que se me volveu proverbial sem-querer.
De Celas (conventuais)
a Santo António dos Olivais
deu-me para, suspirando,
redigir, à antiga, Mãi
– cujo ditongo é naturalmente ai.
Depois, tive de maluquinhar-me de solitária galhofa: a rádio evocava a figura do já defunto Eduardo Prado Coelho. Não me ri de ele já ter morrido (1944-2007), claro que não. Ri-me porque nunca para mim houve maneira de, vendo dele fotografia ou lendo dele qualquer frivolidade pastichada dos franciús, desassociá-lo do adjectivo com que o Namorado de Ophelia ferrava as cartas de amor.
Cheguei ao meu Irmão, estive meia-hora à face dele, regressei partido ao ponto-de-partida. É ora noite feita.
Trabalha, como nas narrativas mais breves de García Márquez, a involuntariamente pegajosa ventoinha eléctrica. Todo o dia, persianas abatidas como pálpebras exaustas. Agora, uma pouca de ar roçando a mornidão suada. Duche frio, brusco, retemperador. Cama, lendo o Brito Camacho de Ferroadas (de 1932 – dois anos antes de sobrevir-lhe a morte, sendo as datas dele: 1862-1934). Depois, Proust, releitura do quinto volume da Recherche. Calor que nem lençol suporta. Na Alemanha, na Bélgica & na Suíça, bem pior é a cena: inundações pluviais, mortos & desaparecidos em barda, o diabo.
E T.S. Eliot lido por Jeremy Irons & Eileen Atkins (The Waste Land)? Maravilha. E idem por Alec Guinness (Four Quartets)? Maravilha.
Saio. Ou: saio mas para dentro.
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