Na mesa ao lado da minha, uma rapariga
atende o telemóvel e diz algo que eu não digo há dezasseis anos:
–
Bom-dia, Pai.
Não fui à primeira das procissões
penitenciais da Rainha Santa. O calor abrandou muito. Já há muito não via isto:
uma mulher com uma fita preta no pescoço. Fica-lhe bem, assim como o vestido
verde. Que irá ela tomar? Claro: um chá. Uma mulher vestida de ver é como uma
montanha azul: algo grande e distante. Bonitos pés encourados de sandália, fio
de ouro subindo o preço do pulso, olhos propícios à lacrimação do êxtase de
emprenhada. Estou aqui sentado a vê-la, a vivê-la, a escrevê-la, a
escrevivê-la, bela, ela, vela. Depois ela sai do Café e do caderno. Resto.
Espero. Penso na cor roxa. Penso no meu Irmão Fernando. Ele também é de
Coimbra. Uma vez (mais do que uma), estive com ele numa terra chamada Reguengo
do Fètal, assim mesmo, acento grave na primeira sílaba. Nós falamos. E quando
falamos, dizemo-nos um ao outro. Dói sempre, mas acaba sempre, também, por ser
bom. Temos este presente, dois pretéritos e um futuro qualquer. Não importa.
Escrevo. Faço. Espero. Hoje conheci ruas novas. Depois vos falarei delas. Tenho
andado com Fernando António Nogueira Pessoa. É um dilema terrível: tenho 46
anos, ele morreu com 47. No outro dia, eu assim para o outro Fernando, o meu
Irmão:
– Pá,
sou mais velho quinze anos do que o Jorge.
E ele:
–
Pois és. Fica sempre novo, ele.
Pois fica. O Jorge
acabou-se com menos de 32. Cá anda, aqui pelas frases dos sobreviventes: um
pouco de sol-torrado nos lunares que (ainda) (lhe) (o) vivem.
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