14/09/2012

O meu "náinilévãne"...


CONE

Leiria, manhã de terça-feira, 11 de Setembro de 2012


A tempo de sur/com/a/preender um trecho da vida movida nesta ínfima partida do Mundo: às 16h52m de uma tarde total e radiante, portuguesa e pousada como uma descomunal ave clara na pedra do Orbe.
Ao cabo de muitas linhas de Gerald Martin a partir da vida do Grande Colombiano nado em Aracataca no ano 1927 (Março, 6), a intenção sumária é registar alguma fauna humana de galeria-Rita, passerelle nunca enjeitável & procissão sem outro andor nem outra santidade que o/a da inocência bonecreira dos passantes mesmos.
À direita-alta, o par de avôs aposentados em boa altura: sorvem devagar suas duas taças de vinho morno, tagarelam com placidez e bom-humor a propósito do antimito (o tudo que é nada) de estarem vivos e moderadamente sãos. Junta-se-lhes neste precis’instante um quase-sósia do Pinto Balsemão mas sem uso do nariz nem anacronismos “tios”.
À esquerda-alta, uma mulher de alguém dentro de carro estacionado em segunda-fila. O alguém dela veio dar um pulso à caixa multibancária. Ela espera sem abrir a janela, pelo que infiro funcione o ar-condicionado do calhambeque.
Fugazes e fugitivas, outras sombras varejam de luz têxtil o proscénio de efémera durabilidade: o rapaz da doença neuromotora que gosta do Record; o motoqueiro cuja bola craniana não difere do capacete; a criança levíssima encavalitada num cone de baunilha-gelado quase do tamanho dela; uma hortaliceira de bigode que rasteja à passagem um lastro de caralhadas sem pimenta possível.
Nisto, obtidas as 17h00m, desarmo a barraca e rumo a algo tão futuro como a minha casa, a que chamo nossa porque, na verdade é (d) ela.   

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Canzoada Assaltante