CONE
Leiria, manhã de terça-feira, 11 de Setembro
de 2012
A
tempo de sur/com/a/preender um trecho da vida movida nesta ínfima partida do
Mundo: às 16h52m de uma tarde total e radiante, portuguesa e pousada como uma
descomunal ave clara na pedra do Orbe.
Ao
cabo de muitas linhas de Gerald Martin a partir da vida do Grande Colombiano
nado em Aracataca no ano 1927 (Março, 6), a intenção sumária é registar alguma
fauna humana de galeria-Rita, passerelle nunca enjeitável & procissão sem
outro andor nem outra santidade que o/a da inocência bonecreira dos passantes
mesmos.
À
direita-alta, o par de avôs aposentados em boa altura: sorvem devagar suas duas
taças de vinho morno, tagarelam com placidez e bom-humor a propósito do
antimito (o tudo que é nada) de estarem vivos e moderadamente sãos.
Junta-se-lhes neste precis’instante um quase-sósia do Pinto Balsemão mas sem
uso do nariz nem anacronismos “tios”.
À
esquerda-alta, uma mulher de alguém dentro de carro estacionado em
segunda-fila. O alguém dela veio dar um pulso à caixa multibancária. Ela espera
sem abrir a janela, pelo que infiro funcione o ar-condicionado do calhambeque.
Fugazes
e fugitivas, outras sombras varejam de luz têxtil o proscénio de efémera
durabilidade: o rapaz da doença neuromotora que gosta do Record; o motoqueiro cuja bola craniana não difere do capacete; a
criança levíssima encavalitada num cone de baunilha-gelado quase do tamanho
dela; uma hortaliceira de bigode que rasteja à passagem um lastro de caralhadas
sem pimenta possível.
Nisto,
obtidas as 17h00m, desarmo a barraca e rumo a algo tão futuro como a minha
casa, a que chamo nossa porque, na verdade é (d) ela.
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