Eu quero mas é que o Milton Friedman
se lixe
Dizia-se antigamente que:
"Não há dinheiro, não há palhaços." Agora é
por causa de certos palhaços que não há dinheiro.
Parece que é muito difícil a
certa gente perceber que não é taxando o já de si escasso rendimento do
trabalho que a luz ao fundo do túnel se põe a brilhar com menos debilidade. É
taxando precisamente, por exemplo e por falar em luz, a macrocéfala e
tentacular EDP, que é afinal quem deveria responsabilizar-se por essa e por
outras lâmpadas. E as PPP, as malfadadas (e maçónicas) furadoras dos “túneis”.
E as gasolineiras, à entrada e à saída dos mesmos.
Também parece difícil admitir que
o sentido da vida não é viver para trabalhar mas trabalhar para viver. Rapando,
raptando e rapinando os emolumentos básicos às famílias, inibe-se o consumo.
Inibindo o consumo, é o próprio Estado quem sofre: porque deixa, por exemplo
primeiro e maior, de receber tanto do capitoso IVA, que lhe está para o
mealheiro como o bafo para o bofe.
Os salários pequenos e médios não
são (de modo algum) o maior encargo das empresas. O que mais pesa às empresas
são os custos da energia, dos combustíveis, das matérias-primas e secundas, da
distribuição. Não há nenhum Milton Friedman que me convença do contrário. Não
há nenhum liberalismo de compasso, esquadro & powerpoint que me faça
abjurar desta certeza segura, prática e quotidiana. Nenhum judeu de Wall Street
me tira disto. Nenhum cafre nepótico das ex-colónias afro-brasileiras me arreda
o pé disto. Nenhum chinês de gravata de loja-dos-trezentos me recicla maoísmos
em contrário. Nenhum árabe dos poços negros me torce a orelha a isto. Nem
nenhum alemão me grunhe que o “arbeit
macht frei” (“O trabalha liberta”, como cínica e genocidamente estava
inscrito – pelos alemães – no pórtico de um tal sítio chamado Auschwitz),
porque eu quero que os alemães e o “arbeit”
à maneira deles vão mas é às nêsperas verdes de galochas roxas.
“O poder, tal como o sagrado, parece uma graça exterior de
que o indivíduo é o suporte passageiro. É recebido por investidura, iniciação
ou sagração. É perdido por degradação, indignidade ou abuso.” (Isto
é de Roger Caillois, in O Homem e o
Sagrado.)
Ora, os ditos “liberais” de agora
(promotores, cultores, inseminadores e recebedores da crise tão artificialmente
global como globalmente artificial) serão tudo menos sagrados. Degradantes,
são-no. Indignos, são-no. E abusadores – terá ainda alguém dúvidas de que o são
também e sobretudo e porque a gente deixa?
Trabalhar para viver não é nem um
luxo nem uma maluqueira. É, ao mesmo tempo, um direito e um dever. Mas viver do
trabalho dos outros sem com ele, trabalhando também, interagir no sentido do
viver comum – é obsceno, é nojento, é indigno e é inaceitável.
E a verdade é que nem os palhaços
ricos nem os palhaços pobres têm já graça, muito menos daquela de que falava
Caillois. Ou Zaratustra por ele.
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