21/09/2012

Mais duas coisas daquela quarta-feira, 29 de Agosto de 2012


Uma cabeleira feminina a que dá o sol
(agora mesmo, na rua nua)
oferece-me o mais rutilante cinemascope.
É de acobreados fios d’oiros loiros.
Tem qualquer coisa de pinha-ananás,
não sei dizer bem, uma coisa assim.

Está no corpo dela como uma capital num país.
Preside-se a si mesma como apeada gaivota.
Breve desaparece na tarde longa.
Desfere uma praça, dissipa-se por esquinas

não verbais já, para mal verbal deste inconclusivo
retrato.

*

Consola-me amar nos animais a mais naturada memória.
Aprecio deles a amoral franqueza, que retine olhares
Tão expressivos como paisagem arbórea a tinta-da-China.
Reproduzem-se infinitamente como edições clássicas:

a gata-Morgadinha-dos-Canaviais,
o cão-Amor-de-Perdição,
o periquito-&-a-periquita-Os Maias,
o tigre-na-jaula-Amadis-de-Gaula.

Talvez por isso eu não goste de jardins zoológicos:
por me lembrarem livros que nas bibliotecas municipais
ninguém quis ler, nem dali levar para casa.

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Canzoada Assaltante