Uma
cabeleira feminina a que dá o sol
(agora
mesmo, na rua nua)
oferece-me
o mais rutilante cinemascope.
É de
acobreados fios d’oiros loiros.
Tem qualquer
coisa de pinha-ananás,
não sei
dizer bem, uma coisa assim.
Está no
corpo dela como uma capital num país.
Preside-se
a si mesma como apeada gaivota.
Breve
desaparece na tarde longa.
Desfere uma
praça, dissipa-se por esquinas
não verbais
já, para mal verbal deste inconclusivo
retrato.
*
Consola-me
amar nos animais a mais naturada memória.
Aprecio
deles a amoral franqueza, que retine olhares
Tão
expressivos como paisagem arbórea a tinta-da-China.
Reproduzem-se
infinitamente como edições clássicas:
a
gata-Morgadinha-dos-Canaviais,
o
cão-Amor-de-Perdição,
o
periquito-&-a-periquita-Os Maias,
o
tigre-na-jaula-Amadis-de-Gaula.
Talvez por
isso eu não goste de jardins zoológicos:
por me
lembrarem livros que nas bibliotecas municipais
ninguém quis ler, nem dali
levar para casa.
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