Castanhos e tristes
Toda a gente nasce zé-manel, mas nem toda chega a durão-barroso. Pelo inverso, e a demonstrá-lo sem apelo mas com agravo, por toda a parte e a qualquer momento se tropeça num qualquer mário-soares que acabou joão-idem. As onomásticas colectivas confirmam, por regra, as degenerescências heráldicas. Repare-se, para o efeito como para o defeito, em quantos bragança-bourbon-hohenzollern foi preciso gastar para produzir um único nuno-da-câmara-pereira.
Crónicas familiares revelam que o meu Avô paterno, que se chamou José e era portador de uns lendários olhos azuis, era especialista em enxertia de árvores de fruto. Punha laranjeiras a dar limões que era um mimo. E punha a minha Avó J’aquina a dar filhos que era outro mimo. Das artes de meu Avô Abrunheiro, só conservo o apelido. Sinal da vulgarização irremediável que o meu nascimento trouxe à árvore do nome é o castanho-pardal dos olhos com que dou a cara às tristezas do mundo. Ora, se eu soubesse pôr rainhas-santas a dar rosas como ele obrigava pessegueiros a dar damascos, decerto que outro galo me cantaria as manhãs. E tal seria também, ao menos para mim, outro mimo. Mas não sei. Paciência.
José Manuel Durão Barroso mais cinco anos igual a quantos ou a quê? Não sei. Vós sabeis? Quereis saber? É-vos igual ao litro? Desemprego. Envelhecimento. Criminalidade. Formação. Habitação. Litro? Meio litro? Quartilho? Decilitro? Copo-de-três? Em que ficamos?
Durão Barroso teve artes próprias para, de um nevoento maoísmo dos 19 anos, chegar a um eurofederalismo de madura idade. O cherne fez-se barão, primeiro, e tubarão, depois e agora.
Nós por cá, sabemos que os milagres se não invertem. Isto é, que (os) rosas não dão pão.
Mas qualquer zé-manel sabe que só um porfiado sermão aos peixes livra o tubarão de ser cherne toda a vida.
1 comentário:
maravilha. Roubar existe para que se faça ainda melhor proveito daquilo que se rouba. A ideia é essa. Eu fiz.
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