16/09/2006

Digo Eu

O homem doura a cabeça de cabelos eléctricos antes de viver um pouco mais.
Os olhos do homem exercem uma lucidez mortiça sobre as madeiras da casa.
A casa é tudo o que o homem pôde juntar contra o frio, contra as mais casas.
A mansidão do homem evoca a loucura dos bois a caminho das terras verdes.

A mulher é toda séria contra os jardins carnívoros com candeeiros e pêlos.
Não haverá mais mulheres onde uma mulher haja completamente.
A mulher enche os bolsos de rosas e de pães para confundir o comércio.
A mulher sangra a partir do coração bífido sem abrir as pernas nunca.

A criança assassina pequenos bichos no quintal do primeiro exílio da criança.
Os olhos da criança radiografam as nuvens duras sobre o monte violador.
Há uma condenação em toda a criança que escuta a poesia do homem.
A mulher e a criança queimam juntas árvores molhadas de esperma.

Eu digo isto antes de viver um pouco mais.




Caramulo, madrugada de sábado, 16 de Setembro de 2006

1 comentário:

Anónimo disse...

Ufa... duro. Retrata o que de mais abjecto existe na condição humana.

Canzoada Assaltante