21/09/2006

Usa o Dia Tintas

este texto é todo Calitos,
que deu de luz no dia 8 de Janeiro de 1978 e eu lembro-me






Usa o dia tintas
luzes coloridas
que emprestam aos olhos
a ciência dos volumes

Nas caras os olhos
diamantinam
pensamentos e extensões
e âmagas coisas

Homens escoram casas
dentro mulheres
conservam móveis
caldos e fotografias

Todas as vezes
que choveu
eu estava lá
nem al podia

Tule gaze popelina
infância têxtil
inconsútil
reverberadora

Maravilhas pobres
e definitivas
eu ainda posso
no dia cada dia

Afluxo de sangue
aos tecidos erécteis
e um
lápis afiado

Criancinhas pressurosas
mariposam a tarde
de ulmos à sombra
raposinhas brancas

O homem velho
grelha um sono
breve e futuro
sentado no muro

Cães circulam
na tarde profissionais
cheiram-se os mijos
perdem-se o lobo

Árvores de subágua
floram peixes
boquiabertos
como figos de prata

Da cidade na noite
o ouro longe
dos candeeiros
e das putas

Trabalho todos os dias
o último verso
o da absolvição
o da redenção

Enquanto não
estou vivo
demoro-me
de emprestados olhos.




Caramulo, tarde de 21 de Setembro de 2006

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Canzoada Assaltante