Usa o dia tintas
luzes coloridas
que emprestam aos olhos
a ciência dos volumes
Nas caras os olhos
diamantinam
pensamentos e extensões
e âmagas coisas
Homens escoram casas
dentro mulheres
conservam móveis
caldos e fotografias
Todas as vezes
que choveu
eu estava lá
nem al podia
Tule gaze popelina
infância têxtil
inconsútil
reverberadora
Maravilhas pobres
e definitivas
eu ainda posso
no dia cada dia
Afluxo de sangue
aos tecidos erécteis
e um
lápis afiado
Criancinhas pressurosas
mariposam a tarde
de ulmos à sombra
raposinhas brancas
O homem velho
grelha um sono
breve e futuro
sentado no muro
Cães circulam
na tarde profissionais
cheiram-se os mijos
perdem-se o lobo
Árvores de subágua
floram peixes
boquiabertos
como figos de prata
Da cidade na noite
o ouro longe
dos candeeiros
e das putas
Trabalho todos os dias
o último verso
o da absolvição
o da redenção
Enquanto não
estou vivo
demoro-me
de emprestados olhos.
Caramulo, tarde de 21 de Setembro de 2006
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