O nosso país suporta-nos
O litoral refrigera a demora
A serra oblitera a hora
E isto está bem assim
Nenhum de nós vai muito a Lisboa
Nas aldeias do Norte há caçadeiras
Velhas preservativam chouriças
Padres escrevem boletins
Macacos comem amendoins
E isto está bem assim
Eu amo a nossa gente o país nosso
Sou fraco de carnes e débil de osso
Ouço aqui repito ali
Ser culto é ser possesso
Raparigas de trincadeira parreiram à sombra
Rapazes delicodoces amargam caramelos
O inverno não é frio e no estio
Os dias torram lânguidos e belos
E é assim que isto está bem
Eu por acaso tenho ainda mãe
Avós não mas esses
São mesmo p’ra perder sem dar luta
Não os ter é ser quase filho-da-puta
A gente ama os nossos avós
Também os nossos defuntos defumamos
Insensatos incensos incensamos
Magnos mognos lhes dedicamos
E é pelos mortos sonhos que vamos
É ou não é ó Sebastião da Gama
Poeta que a gente também ama?
Se isto não estiver bem assim
Vou ali a Espanha e só volto se for doidinho.
Caramulo, madrugada de sábado, 16 de Setembro de 2006
1 comentário:
Inteligente.
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