16/09/2006

Ele Há-de

Conheço tão poucas pessoas que
só me sobra apontar o dedo às que
desconheço. De resto mereço
a dedo ser apontado pois que
a virtude é um zinco quente sobre que
ciam as ignotas gatas loiras como
cervejas em dia de chuva vendo o mar
a bramir e a bramar e a espumar como
um epiléptico descomunal que
da ilha traz a nostalgia continental.

Conheço tão poucos livros que
me agrada o jornal regional
inçado de artigos da padralhada
da autarcada e de mais nada. Em
sábados assim mornos sossego eu
os cornos em cafés de vila
bebo um portinho coço a pila
e deixo andar o futuro que deus
me deu.

(Mas um pouco de lenha no lar perfuma
de bosque o meu coração suburbano
já lá vão o verão o mar e a espuma
ele há-de estar frio o resto do ano.)



Caramulo, princípio da tarde de 16 de Setembro de 2006

2 comentários:

Anónimo disse...

Belo, muito belo o início do primeiro. Gostei da elaboração da ideia de "apontar o dedo" e relaciono-a com a discussão do politicamente correcto. Não quero parecer redundante, mas... Belo e ponto final.

João C. Santos disse...

As melhores palavras para descrever um momento de solidão sem saudade, reina a razão, o que se vê, sente e prima na nostalgia que parte para mais um ciclo...

Um grande abraço para ti Daniel a quem muito estimo e admiro...

João C. Santos

Canzoada Assaltante