10/07/2021

PARNADA IDEMUNO - 606 a 608 (ainda na quarta-feira, 7.7.2021)

© DA.


606

    Autores portugueses, ora já defuntos (há pouco ou há muito), há com quem eu gostaria de ter conversado em presença pessoal. Fi-lo, por pouco tempo embora – e uma vez só – com os valiosos Manuel da Fonseca & Armando Silva Carvalho (este último teve mesmo a supina gentileza de me oferecer, via CTT, o seu O Amante Japonês). Com José Saramago, duas: uma vez em Coimbra, por os meados de 80/XX, e outra quando o apresentei ao público na Feira do Livro de Pombal, julgo que em 2001, por aí. Com o grande Ruy Belo, nunca. O Poeta morreu no exacto dia em que completei 14 anos & três meses de nascido: por conseguinte, não seria talvez de grande interesse, para ele, o que eu tivesse a dizer-lhe ou a perguntar-lhe. Com Herberto Helder, outro grande, não sei se gostaria. Com Fernando Pessoa, o mesmo. Talvez gostasse de conversar com Vergílio Ferreira. Idem com Mourão-Ferreira. Penso que com Fernando Namora nem sim nem não, só talvez. Com Torga, nunca-em-tempo-algum. Com Eça, sim. Com Camões, sim. Com Bocage, conforme o que um de nós dois tivesse bebido. Com Luiz Pacheco, não propriamente mas também nada contra. Com O’Neill, sim. Com Cesariny, hum, não. Com Nuno Bragança, sim. Redol, idem. Soeiro, também. Cesário & Pessanha & Wenceslau, decerto. Aquilino, não sei. Com Ramalho & Teófilo, não – pela estupidez com que destrataram o genial Cesário Verde, já mencionado supra. Com Sttau, sim. Com Alçada, julgo que também. Com Cardoso Pires, não sei, gosto pouco de levar cabeçadas nas fuças. Com Fialho, hum, népias. Com Mário de Sá-Carneiro – nunca me ocorreu. Com Almada, se calhar não. Com Camilo, não sei mesmo. Com Gaspar Simões, não. Com Régio, talvez não. Com Branquinho da Fonseca, talvez sim. Com Afonso Lopes Vieira, sim. Com Joaquim Paço d’Arcos, não. (Lembrei-me, agora mesmo, de já ter falado com Mário de Carvalho, mas este é felizmente vivo ainda – embora a conversa tenha sido por meros instantes e num contexto escolar.) Com Rodrigues Miguéis, sim. Sim, tomaria chá & torradas com Correia Garção. E com Raul Brandão. Com Castilho, . Com Antero, hum, hum, talvez nim. Com Oliveira Martins, sim, acho. Incógnita total quanto a Sá de Miranda, António Ferreira, Rodrigues Lobo, João Roiz de Castelo Branco, Martim Codax & D. Dinis. Com a besta do Pinheiro Chagas, nunca. Com José Gomes Ferreira, falou o meu Irmão Zé Daniel. Ah! Gostaria – muito – de ter conversado com Dinis Machado.
    E com António Osório – sim, muito, que vivo segue o mais felizmente.
    Quanto a mulheres-escritoras, é curioso – nunca falei com nenhuma que fosse autora relevante. Nunca falei com Agustina. Nunca, como?, com Ana de Castro Osório. Nem com Fernanda Botelho. Nem com Maria Velho da Costa. Nem com a fatal Espanca. Com a Natália, acho que não, não teria grande coisa a dizer-lhe que pudesse interessá-la para lá da boquilha longa.
    Enfim: se eu estiver errado & o papa Francisco, certo – lá nos veremos todos no Purgatório, venham daí esses ossos.

607

    Há a História de antes de Cristo & a de antes dos Cristãos. Não são a mesma coisa. Basta pensar na América pré-Colombo – e no que, em nome do tal Cristo, lhe sucedeu depois. Aplique-se o mesmo raciocínio – ou critério – a tudo o resto: a começar por África, naturalmente.

608

    O papel é diverso espaço-tempo quando escrito.
    Diverso de diverso, quando por escrever.
    A existência comum-quotidiana segue outras regras.
    Na despensa, as duas prateleiras superiores têm livros.
    As inferiores, mantimentos & outros produtos.
    O chão, batatas, azeite, água, acessórios de limpeza.
    O prazo-de-validade da História Universal (título hiperbólico, pois os vinte voluminhos são todos de terreno-planetária circunscrição) do Carl Grimberg, por exemplo, diverge do do azeite. O azeite (mas não este, NB) já era antes do sueco Grimberg – mas este (o azeite) conheceu menos sítios do que os factos interpretados pelo historiador. Na prosa grimbergiana, a bondosa Florence Nightingale (“may she be free from strife”) continua lamparinando, noite adentro, os moribundos da Guerra da Crimeia; perto dela, a ensaística sergiana faz as delícias dos polemistas em pleno Estado (dito) Novo; abaixo de Florence & de Sérgio, café, atum, óleo, pimenta, lava-tudo & uma vassoura de cabo rachado.
    O papel é diverso
etc.



2 comentários:

cid simoes disse...

Com o Ferreira de Castro dava gosto falar.

Daniel Abrunheiro disse...

Acredito. Também gosto da obra dele.

Canzoada Assaltante