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Quinta-feira,
22 de Abril de 2021
O senhor Philippe Herreweghe rege o Collegium Vocale Gent. São três cantatas de Bach devidamente número-classificadas: BWV 127, BWV 138, BWV 161 – valendo cada BWV por Bach-Werke-Verzeichnis, naturalmente. Ganho a matina assimilando tal torrente sonora. Homens & mulheres sabendo muito bem o que fazem, o que receberam, o que se prestam a dar(-me/-nos). São 50’40’’ de puro deleite.
Vai passando no (des)continuum uma multitudinária procissão: em ano a preto-e-branco, Coimbra processional a Rainha Santa Isabel. A monarca mantém Cidade & mocidade própria. Opas, círios, futricas, paisanos à paisana. Edifícios já então velhos como o olvido.
A galeria, felizmente infinita, alinha muito mais: Eduardo Nery (1938-2013), Samuel Beckett (1906-1989), Abel Salazar (1889-1946), Fryderyk Franciszek Chopin (1810-1849), Abel Manta (1888-1982). Tudo gente inexorável – de firmada & afirmada obra, inexorável sim.
Considero improvável alternativa matina. Está & é, esta, muito bem assim.
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Aqui perto, Montemor-o-Velho, fulano mata a tiro a mulher do irmão. A vítima já está na morgue. Histórias afins desta abundam no País, já nem falo do resto do mundo. O assassino está de momento em fuga. Vive-se pouco, mata-se muito, morre-se sempre.
Ouvi o meu Bach, fui-me à açorda, fiz café, pousei como pássaro gordo em ramo fino. Uma pastilha de fluoxetina não desajuda, dizem que lubrifica sinapses & axónios & coiso.
Em Montemor-o-Velho, entretanto, sofre-se porque o humano não cessa de recriar o desumano.
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