14/04/2021

PARNADA IDEMUNO - 243 & 244

© DA.

243

Terça-feira,
13 de Abril de 2021

    De esplendor & rosa esplendorosa,
    mocidade vivi que já não volta.
    Idade tenra & maravilhosa
    sem resquício de mal nem de revolta.
    Mas pronto, calma, lá-vai-que-não-volta-mesmo. Ontem & hoje dei livrescas voltas ao (meu) mundo. Comprei velharias maravilhosas – cuja maravilha foi agravada pelo preço abaixo até da uva-mijona à chuva. Já deliciadamente folheio os volumes. Neste aspecto, tudo bem. Outro aspecto todavia nada bom: morreu no Louriçal (Ribeira de Santo Amaro) um senhor meu amigo há 32 anos: o senhor Joaquim Roque, pai de Toninho & Paulo, que durante alguns tempos me fez a contabilidade anual ao vencimento de (então) professor naquela histórica & amável Vila. Verso & reverso.
    Situação clínica minha: continuo rangendo de ombro /braço esquerdos; tenho uma ferida no palato que me estorva – e quanto! – a deglutição.
    mocidade vivi que já não volta
    etc.

244

Algumas letras brancas sobre fundo negro.
Rosto velado a tule: de rapariga virginal.
Relógio em caixa de ébano sobre a lareira.
Mobiliário robusto mas finamente talhado.
A mesma rapariga, mas ora senhora casada.
Vestida de azul-ferrete, a sós na saleta.
Nem um sinal exterior de seja o que for.
Bruxuleia a lamparina animada a azeite.
Este século perder-se-á como todos: sem torno.
Não deveríeis deixá-la tão-tanto-a-sós-tempo.

No patim traseiro da casa:
Mercedes, Raquel, Serafina, Telma.
As meninas brincam, descuidosas rosas.
Andam homens empilhando lenha.
Mulheres algaraviam rouxinolmente.
A lenha é muito boa, durará todo o inverno.
A avó ensandecida fiodebaba-se na varanda.
Quando fala, fala só daquele dia na praia.
À frente de todos, o barco virou-se, afogou-se gente.
Tal não a ensandeceu, o luto sim, pelo filho, em diverso naufrágio.


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Canzoada Assaltante