15/04/2021

PARNADA IDEMUNO - 245 a 248


245

Quarta-feira,
14 de Abril de 2021

    Lembranças, quais círios errabundos, dimanam nimbadas fragrâncias quási ópticas em nudez. Destroços & escolhos de pretéritos erros juncam a praia deserta de um-só. Esplende o que se humanando pode dizer-se: até ao imaginífico supino. (Ou suspiro – mas esses são outros volteios.)

246

    Rodapé de noticiário: “Morreu o cantor Artur Garcia, aos 83 anos.” Era figura recorrente do nacional-cançonetismo do pré-25. Nunca, porém, me foi antipática figura. Viveu (e cantou) de acordo com as marés. António Calvário & Tony de Matos (o primeiro, ainda vivo; já desaparecido, o segundo) são desse tempo. Madalena Iglésias & Simone de Oliveira, também. Madalena achou bom-vento-bom-casamento na Venezuela, retirou-se, faleceu já. Simone ainda por aí anda, honra lhe seja. Outro que morreu: Bernie Madoff, o hipervígaro. Deixa mais raiva do que saudade. Não a mim, que lastimo apenas ao cantor Artur Garcia, português de um tempo definitivamente volvido. Ironia triste: faria amanhã, 15 de Abril, 84 anos de nascido.

247

    Quatro pessoas alinhavam fios verbais em comunhão de tempo dialogante. Resulta de tal toda uma tapeçaria retórica que me entretém – e até diverte. São, as quatro sem excepção, pessoas inteligentes. A trama do bordado ou do tapete – ou do trapo, pronto – é urdume volteado a mote de uma quinta figura, do presente conclave – ou sinédrio; ou quadrilha – ausente. Divirto-me. Digo-o não no sentido da hílare disposição mas no do entretenimento verbo-lúdico. Gosto de ler o bem-escrito como gosto de escutar o bem-dito. A tal quinta figura é um traste & é um triste. Ri-se mas é um triste. É um traste & o contraste de qualquer pessoa decente. Dou o tempo por bem-empregue. Sigo ora para outros exercícios da atenção.

248

    Uma mulher procura resolver certo problema com fundura no tempo. Não lhe há-de ser fácil. Não depende dela apenas, antes dependesse, mas não. Trabalha, ganha pouco, trabalha mais, pouco mais ganha. Legalmente, é compelida a liquidar dívidas que não contraiu – mas que em má-hora avalizou, de boa-fé & melhores-intenções se inferniza esta vida, que outra não há.


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Canzoada Assaltante