23/05/2011

ROSÁRIO DE ISABEL E DINIS seguido de OUTRAS FLORAÇÕES POR ESCRITO - 36

36. RENITÊNCIA E VISCO
Leiria, segunda-feira, 23 de Maio de 2011

Cada um/a encontra-se só adentro sua cabeça. As idas vidas e as noites mal dormidas desencontram cada um/a da outredade desejada ninguém sabe já porquê, para quem. Como se os tantos dias perfizessem uma só noite. Ontem à noite, num largo de Leiria, dei por mim assimilando o orvalho de diamantes, digo: as casas iluminadas de olhos quadrados na noite, as pessoas encerradas nas casas, nas cabeças. Depois sonhei alguns filmes pouco aprazíveis com pessoas que já não prezo nem desprezo: fantasmas renitentes, apenas, larvas ainda no visco das sinapses, frutos mais da má digestão que da mágoa moral que subjaz a continuar vivo. Prefiro os patos fluviais e as pérolas verbais, as caras de bacalhau e as brisas do entardenoitecer. Anestesiada a Revolução, o mais é assistir aos cinquentões praticando corridinhas-sapatilhas contra o cancro e outras más ideias de Deus, tais como o Uganda e a violência doméstica e a pedofilia de hierarquia católica. Estas coisas pensam-se sozinhas, chegam a não precisar de um/a para volver-se escrituras. E é terça-feira amanhã – como ontem também foi, nada a fazer, nem a temer, nem a desejar.  

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Canzoada Assaltante