12/05/2011

É P'ACABAR, É P'ACABAR - FINAL DA ENTRADA 30 DE Rosário de Isabel e Dinis - Coimbra, segunda-feira, 9 de Maio de 2011

Se eu quisesse contar uma história, teria
de tê-la.
Tenho-a.
Não preciso de revivê-la.
Escrevê-la
é quanto me basta.
Esta:
era uma (outra) vez.

*

Era uma outra vez um homem de casaco verde ante uma catedral. Ele deu sementes a pombas, estava de costas no sonho de outro homem, aquilo parecia coisa com a qualidade-BBC, que é como os parolos de cá, por causa do Nicolau Breyner, chamam às coisas dos ingleses que estudaram em Oxbridge ou Camford. Era dessa vez. Eu não estava nem propriamente a dormir (coisa que já me aconteceu), nem propriamente acordado (coisa que nunca me aconteceu).

*

A pessoa só mora onde se demora:
isto é, na cabeça, coração chamada
pela figurativa atenção respiratória
aurículo-ventricular
de facto intitulada
lar – ou memória.  

*

A pessoa é criança sempre mas arma-se em velha desde que lhe não permitem ser adolescente – ou apenas pessoa: ou apenas gente.
Conheço todos os casos assim: e nem sequer estou a falar de mim, mas da comum humanidade que viceja e emurchece adentro as portas de qualquer aldeia e de qualquer cidade.
As mães vivem contra a morte, é certo, mas os pais vivem na própria morte mesma, na falta que vão fazer nos móveis de repente velhos, nos chinelos-de-quarto amolgados pelos joanetes invencíveis do ex-atleta de fábrica, pelo chapéu incompreensível dos casamentos, pelos suspensórios que já cervicais não sobem ao prumo da cabeça.
Mas também pode ser que, Leonor, uma criança em pessoa nos, Teresa, aconteça. E que então – e aí – nada mais seja (que sempre foi) ou apeteça.

*

O amor não físico entra por uma espécie
de espécie de vê de cortinas:
no meu caso, muito sol, muito adiante:
duas meninas.

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Canzoada Assaltante