Continuo vivo na antemão dos comboios.
Galerias lavadas por mulheres estrangeiras existem à flor das catacumbas de superfície da Cidade.
Olho os já raros campos lavrados por preciosos animais: homens, éguas, mulheres, bois, ferros, organismos do pranto gerando plantas e mais preciosos animais (nem menos).
Olho muito, envelhecer permitiu-me essa arte mais interior do que (se) pensa.
Vi a montanha, vi o ribeiro: recebi o ribeiro, recebi a montanha.
Haustos profundos invernam-me os sonhos desamparados de cada noite, faz hoje precisamente 25 anos que o meu Irmão morreu, eu continuo vivo, na antemão.
*
Também é verdade que acabei por razoavelmente desplanificar os veios principais e principescos da minha quotidianeidade. Fui por esses ramais, colhi a flor do absinto – e sinto muito se alguém deixei (o)fendido à passagem. Nada disto, como a Poesia, tem deveras importância. Em tabernas-chão-de-tremoço, pratiquei a quadra, a sextilha e a melancolia. Saindo, mirei as esquadrilhas-rolas, asas-de-Portugal no céu-Internacional. E de cada vez que de mim conta não dei nem fiz, fui quase-quase feliz.
*
Um trabalho que eu pudesse subjugar,
uma orla marítima anisada pelo suão,
uma rede secreta de funchos e espargos,
uma senhora de mansa ignição na noite,
um tempo de guarda de anjos iniciais,
uma raposa em chamas na infân-distância,
os nossos amores alfabetizando a indiferença,
a sintaxe do gelo lida pelo sol-da-meia-noite,
Shackleton, Peary, Magalhães e o da Gama,
um homem como eu sozinho na cama,
uma explosão de andorinhas nas águas residuais do olhar,
um adro colonial sem remorsos nem consciência,
uma cerveja fria em ponto-morto,
falcatruas versilibristas como a presente
(a Vossas Excelências muito obrigadante),
um destino viário-(não vário)-diário,
um anoitecer-atacador para botim-memória,
uma bela amizade perfumando (o) nanismo,
uma mulher-porta-aviões contra o japão-indivíduo,
o sol tíbio desta segunda-feira inconsútil,
o espairecer lúdico de idos-amados olhos,
a trança da avó numa caixa de papelão
(por morte da Mãe guardadora dela filha),
a criança destinada ao trabalho do ócio.
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