26. OBRIGATÓRIO RESPEITAR O N. DO LUGAR
Leiria e Coimbra, quarta-feira, 27 de Abril de 2011
No Largo Paio Guterres (ou do Gato Preto), em Leiria, uma mulher lindíssima dá-se em epifania um pouco antes das dez da manhã. Tudo nela é exteriormente precioso, da seda preta integral aos flancos de égua bem tratada pelos anos, pela nutrição e pelas certezas ginásticas do erotismo. Coco-a com discrição e descrição: os olhos coruscam de fendas semicerradas pelo sol forte da quarta-feira. A firmeza muscular iça-lhe as meloas nalgais à terminação vertebral. Ela é poderosa: rija gordura configura os braços, as coxas fremem força, a barriga é plana como um mármore perpétuo, os pés tacteiam como mãos o chão empedrado do Largo. O todo dela intensifica a claridade centígrada da manhã de Leiria. Ao fazer isso, mais tenebrosos, por os lados dela passando, se volvem os pedintes de cigarros, cuja toxicidade amarelo-hepática só pode ser roxa. Esta mulher há-de já ter causado muitos incêndios viris – como não, de facto, deixar de sublimar a corrosão ígnea de um homem vezes dezenas de homens por ela ardendo?
Tudo isto me satisfaz enquanto (des)faço tempo para o expresso rodoviário das 10h30m para Coimbra. Vibro graficamente ante a anunciação ponderosa deste animal de tão desmesurada estesia caligráfica. Filha de alguém e de alguém mãe já talvez, falta-me dela tão-só um nome com que em sonhos a tuteie. Digamos assim: Laura; ou Maria da Anunciação; ou Penélope; ou Dália; ou Soror. O instante passa quando ela caminha para fora desta página que lhe agradece e que lhe agradeço.
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