19/05/2011

Rosário Breve n.º 207 - in O RIBATEJO de 19 de Maio de 2011



Sobre uma boa notícia

Fui convidado, por ocasião do 30.º aniversário do 25 de Abril, a integrar uma antologia poética com que a Garça Editores quis assinalar a efeméride. A obra foi apresentada em vários pontos do País. Por boa sorte minha, calhou-me a sessão de Santarém. Por melhor sorte ainda, a apresentação decorreu no jardim daquela que, a partir do pretérito dia 17, é a Casa-Museu Passos Canavarro.
Foi numa tarde de sol. Recordo bem a ocasião, assim como não esqueço os rostos suaves e civilizados das pessoas circunstantes, a começar pelo anfitrião, Dr. Pedro Canavarro. Da Alcáçova, a luz e o ar incomparáveis da Lezíria chegam a ofuscar a efemeridade da vida. Agora (ver edição anterior deste jornal), aquela Casa fez-se Museu, isto é, tornou-se memória viva. Os benignos fantasmas de D. Afonso Henriques, de Passos Manuel e de Almeida Garrett por ali palpitam ainda em fosforescência histórica, política e literária. Gostei de saber.
Um povo sem memória é um povo sem futuro. Os acertos, as falhas, os factos, as utopias, as espadas e as penas do passado são outros tantos marcos paradigmáticos com que podemos (e devemos) balizar aquilo em que o presente constantemente se torna: o futuro. Ora, é com instituições como a Fundação Passos Canavarro – Arte, Ciência e Democracia que a dita “província” se alcandora sem pejo à dignidade memorial e à identidade venturosa de há tantos séculos.
Santarém e o Ribatejo são absolutamente incontornáveis na História de Portugal. Mas não apenas da História que colecciona e enumera pretéritos. A História é, ela própria, uma espécie de Grande Lezíria: compete-nos aproveitar a luz dela para ver em frente.
Vivemos tempos que consubstanciam a massificação da ignorância orgulhosa de si mesma, da idiotia intelectual promovida a insígnia do carreirismo. Exemplos como o da Casa-Museu Passos Canavarro são raridades que deveríamos apreciar pensativamente: e se a regra fosse isto, isto que Pedro Canavarro e a sua família, dando o que é particularmente seu por direito, tornam comum, aberto, democrático e filantrópico?
Hei-de lá voltar: e mesmo que esteja a chover, hei-de certamente reencontrar no jardim aquele sol de quando o 25 de Abril ainda fazia anos.


1 comentário:

Manuel da Mata disse...

"Um povo sem memória é um povo sem futuro", partilho da tua opinião. Abraço.

PS - Abril sempre, mesmo quando o mês vem chuvoso.

Canzoada Assaltante