© Alvin Langdon Coburn - The Cloud (1912)
http://www.masters-of-photography.com
27. E AS COISAS RESTANTES
Coimbra, segunda-feira, 2 de Maio de 2011
De novo ficaram verdes da minha terra as tileiras,
não é fácil estar vivo dentro do enganado pensamento.
A gente vai à vida, dizem – Um momento!
– e a gente espera um momento pelas tileiras.
Falei ontem com o Idílio Costa Severino.
É nome próprio do encontro, do romance.
Eu na prática sou feliz desde menino,
perdoai-me tão-só este ou aquele lance.
De novo ficaram verdes etc.
*
Frequentei assiduamente alguns corações
aos vossos iguais, aos vossos iguais.
As pessoas eram cinzas mas florações,
às vossas iguais, às vossas iguais.
Frequentei assiduamente etc.
*
O meu corpo é o único museu que posso construir-te.
Não estejas a rir-te, que o meu corpo
é geralmente com que caio de borco,
no chão da nossa terra chamada Felicidade.
S’eu estiver por cá, vem à vontade,
qu’eu farei de corpo-borco-porco presente.
A gente é a gente, a gente é a gente.
A gente é diferente, querida, diferente.
De novo ficaram assíduas e verdes etc.
*
Um menino de três anos morreu afogado.
Foi numa barragem, distraíram-se os pais.
Eu não faço ideia, não tenho encontrado
razões mores do qu’eu, nem menos nem mais.
Sei que as pessoas amam a própria barriga.
Eu sei que elas poupam sobretudo a pele.
Mas eu vou dizer-te, Mafalda, Amiga,
que o resto do mundo não é Daniel.
Um menino de três anos chamado Rafael etc.
*
Fala-me do tempo em que foste feliz sem saber, olha que a vida é baseada nisso, nisso que a gente esquece.
Sem comentários:
Enviar um comentário