19/03/2010

Redacção Vendo o que Chove, Dormindo a Cadelita



Louriçal, tarde de 19 de Março de 2010




A uns em outros o tempo que faz e o Tempo passante engessam.
Mais poético resultaria, talvez, dizer que encastoam brunamente a uns como a outros, pobres jóias pobres do tempo e do Tempo.
Aves a prumo obliquam a uns e outros a condição e o horizonte, prisma óptico de caleidoscópica chuva que acontece em sendo as três e qualquer coisa da tarde.
Molhados olhados voos orni’alados encantam a geral pobreza e a particular miséria.
Isto é tudo de estar vivo por quase nada e para nada, quase.
Nos entrementes, o perfeito casaco da cadelita a guarda em sono acima do tapete encarnado.
Em nós (como em outros uns), ocasionais fremem emoções – como rápidos rastilhos, rápidas passagens do pelotão da Volta.
Volta por volta, a melancolia assenta arrais no bar dos bombeiros, nostalgia do fogo e do Verão, lenho maduro que esbraseado revela de rubi o ardente coração.
Nenhuma fúria e fé alguma: o mundo é calma sem diferença.
E sim: a mesma fúria do mar não ensina outra violência que esta necessidade de a cada instante renascermos, uns como outros.
Olha o que chove.


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Não, nem fúria nem fé, nem agonia nem luxúria, nem incúria, nem dia ou noite, senão a vida toda em volta de roda de nada.

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Canzoada Assaltante