Louriçal, noite de 20 (1) e Pombal, manhã e tarde de 22 de Março de 2010
1 (zero)
Sonho ou algo por mim sonha com uma rua vegetal que a um bosque abre em pleno Inverno. Nuvens devassam o firmamento interior como filtros de Lua. Uma paz vigia os bastidores da cabeça, que sonho deitada sonhando. Sente o corpo raias e placentas de um vidro diferente, o que transparece na onda de calor dos desertos. Nenhum cão e nenhum lobo, todavia de algum a voz faz de sereia-de-cinema na câmara escura. Estou eu mas outro sou, pois que penso o que me sonha, que não posso já ser, estando embora. Dedadas de tinta-da-China sobem a ser mais negras no palor lívido: pinheiros e céu da noite, contra que apareço mais branco e menos o que fui. Pequena maravilha, descubro ou algo por mim descobre que a noite é a mesma e única de todos os sonhos de toda a gente: onde abetos, pinheiros; ou onde pedras, pedras. Os senhores fazem ideia. Não são raciocínios, mas manchas de sentido: fulgor, obscuro fulgor de sinapses, de atómicas coisas que incandescem no químico que é ser, mesmo em sonho, ou sobretudo em sonho. Cama imitadora de esquife como de berço, comum tálamo de sonhadores e ruas vegetais na mata única do bosque mesmo. As senhoras fazem ideia.
Depois (no contar, não no eterno), algo por mim e eu compreendemos a poderosa indiferença individual dos sonhos. Assim: sonhos e eternidade e ruas vegetais florestarão través-eus, vingada e extirpada a biologia do um devindo, de novo, zero.
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