15/03/2010

Mais Nomes-Sítios para o Livro d'O Inverno em Baltimore

© Sandra Bernardo – Pombal, 9 de Março de 2010


Louriçal, fim da manhã de 13 (I), e Pombal, manhã (II) de 15 de Março de 2010




I

Quem escreve e quem lê – não ficam.
O escrito fica algo mais, depois também se esvanece, ar de ar – e sombra de sombra.
É destino do agora volver-se outrora.
Ao meio-dia, o acampamento mundial deflagra de luz: do casario a pátina muito branca dá vontade de cegar.
Olhai o nosso mundo: quanta inútil beleza, verdade?
Inútil por instantânea – digo.
Um homem ante um jornal – papel ambos.
A humidade escalavra e estria aquele armazém, que foi de arroz em décadas sumidas como os fins de frase das pessoas doentes.
As famílias: árvores emaranhadas de silveiras.
A humanidade ínclita que decorre das ruínas de tudo, a começar pela Roma Antiga e a desembocar neste sábado.
A tez deste homem, o cós daquela senhora.
Risos estirados como folhas de entremeada de barriga de porco.
O unanimismo do passamento.
Arles, Aix-en-Provence, Queitide, Outeiro do Louriçal, Richmond, Ontario, Sortelha: pontos resistentes até à hum(na)idade, à obstinação das obras e dos cultivos, à chegada definitiva da melancolia ao coração da idade.
O senhor Carlos e a senhora Silvana.
Uma dose de frango assado, uma libra de pão, meia dúzia de folhas de alface rendilhada como manuelinas janelas.
Pedro & Inês, Tristão & Isolda, Paulo & Virgínia; e José & Maria & Deus, o mais famoso ménage à trois da História.

II

Cada uma destas pessoas parece todas as outras. Passa à luz da manhã em silêncio exterior, de facto urdindo uma aritmética de ruídos na cabeça: as contas de cada dia, o que fulano disse a fulana, a carta de um dos departamentos do Estado, a rapariga que cresce a toda a velocidade, a revisão do carro, como será se for a reforma. Por um lado, é só a vida. Por outro é um bocado triste.
Recolho mais nomes-sítios: Apúlia, Arcozelo, Paderne (Albufeira), Tires; Monte Estoril, Feitos (Barcelos), Abiul (Pombal), Buarcos.

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Canzoada Assaltante