© Ralph Eugene Meatyard
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Terça-feira,
17 de Agosto de 2021
Sei de corpo sem mente – dita alma – mas não de mente/alma/consciência sem corpo. (Este último caso, só de & por fantasia.) A autoconsciência é de facto algo maravilhoso: mas não acontece sem o cérebro dispor de oxigénio. A espantosa electricidade neural opera maravilhas, sim: mas em vida. Quanto às epifanias em estado comatoso &/ou de quase-morte, pois muito bem – são alucinações terraplenadoras da percepção espácio-temporal normal, mas só isso: alucinações, espasmos imagéticos de um cérebro a trabalhar às escuras, axónios & sinapses em palpos-de-aranha para render cinema.
Penso isto enquanto me não é concedida a mercê do sono. Porque vivo sem religião, não espero anjos nem guardas nem redenções nem milagres. Dormi à tarde, é o que foi, peno agora o não-sono. Não é grave. Papoilas visionárias? Quantas quiser – em verso. Não espero (por) uma próxima-vida que não há. A terra & o fogo me beberão ao ar a água que sou, somos todos. Somos toucinho que sonha. Ou: que sou-nha.
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