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Quinta-feira,
17 de Junho de 2021
É-me preciso reconstituir a imagem do jovem H.C. viajando de comboio entre priscas prístinas montanhas todavia remoçadas pelo nevão que de noite tornou eterno o isolamento desta partida do planeta.
A ocidente desta linha-férrea, B.R. escolhe uma hospedaria no litoral para completar o manuscrito da sua viagem pela Noruega.
H.C. é de 1912-13.
B.R. existe em 1954.
Impõe-se-me a necessidade de ir de um a outro para obter uma espécie de constância, ou ambiência, ou aroma – ilusão tudo, bem sei, mas.
Constância de bosquete em solo arrelvado; ambiência de avoengos vivos través o conforto da lareira perfumada; aroma a rosas orvalhadas de champanhe original. Todavia – e como sempre – é preciso tentá-lo por outras palavras.
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Em Proença-a-Velha, anda há muitas horas (28) desaparecido um menino de dois anos & meio. Mais de uma centena de agentes da GNR, bombeiros & outros operacionais da Protecção Civil buscam incessantemente a criança. Não se sabe se há gesto criminoso ou não na origem deste acontecimento. Apareceu a cadelita da família & uma peça de roupa do menino. É assunto o mais angustioso. Tudo está em consideração. Há binómios militar-cão no terreno. Drones perscrutam o perímetro aéreo. O perímetro é dado como de dez quilómetros de raio. O aspecto topográfico local dificulta, incluindo linhas-de-água & poços agrícolas, alguns abandonados.
Ante tal situação, tudo se relativiza, esfuma-se tudo. A absoluta inocência do protagonista desarma qualquer arremedo de fé, ciência, moralidade, juízo. Em caso de crime por trás, mais ainda.
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Pela finitarde, o menino foi encontrado. Vivo, felizmente.
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Crime & Bondade são atributos humanos, irreparáveis ambos.
Aquém & além do factor humano, a impiedade é inimputável.
Um trecho de rio, sombra recebendo do arvoredo a si anexo.
Citrinos silvestres pintalgando a encosta baldia.
Renôvo perpétuo da natural máquin’antiga, casa nossa.
Nem susto nem ânimo, pedra onde é pedra, água onde água.
Algures, a pessoa vai colhendo sinais expostos, ao des(a)tino.
Ali, houve a fábrica; há muito ossadas, quem a funcionou.
Filhos, afilhados, enteados, órfãos, ascetas, náufragos.
Trigo, centeio, aveia, cevada, milho, panasco.
Livro, tesoura, bule, alguidar, seira, torneira.
Bonança, espera, demora, aposta, viagem, insistência.
José Luís Martins Miranda, ausência justificada.
Terra-de-pão o não espera já, outro mestre terá.
Carlos José Duarte Conceição, ao sol como à chuva.
Pelas filhas se reparte cada tareco, cada tostão.
Jorge António Lindo Santos, gaibéu sem retorno.
Mármore todos, sombras em alguma frase ocasional.
Ou algum verso.
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