13/06/2021

PARNADA IDEMUNO - 471 a 474

© Giovanni Boldini


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Sábado
12 de Junho de 2021

    A meio da tarde, dava na TV o jogo (para o pandemicamente procrastinado Euro-2020) Dinamarca-Finlândia. Aos 43’, o (excelente) n.º 10 da selecção anfitriã, Christian Eriksen, caiu inanimado. Agora (18h10m), ainda não se sabe mais grande coisa. Assistido no relvado, o jovem de 29 anos foi já levado para fora do campo. Espero que não se repitam Fehér (Benfica) & Pavão (Porto), entre outros malogrados tombados em campo para sempre.
    (P.S.: Nas seguintes horas, consta estar consciente & estável no Hospital de Copenhaga. Ainda bem.)

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    Troveja remotamente mas sente-se bem o fragor atmosférico, já caiu chuva grossa, é espessa a aragem, ancestral poder sobrejaz & preside ao real. É de uma pessoa se seguir humilde, singela & órfã de qualquer heráldica. Eu gosto de trovoadas, o meu materAvô temia-as. Eu gosto do espectáculo, da fúria canora dos elementos (embora chamar-lhe fúria canora seja vã prosopopeia ou fraquita metagoge). Vem, logo, a bonança. (Mas ainda ribomba, ainda estrondeia, é ainda de riçar galinhas a electricidade à solta.)
    Aquilo do susto cardíaco do rapaz dinamarquês suspendeu-me a leitura que esparsamente ando fazendo do primeiro tomo autobiográfico do senhor Osbert Sitwell (UK, 1892-1969; Left Hand, Right Hand, penso que de 1943). As novidades são benignas: está vivo, já fala. Se volta ou não a ser futebolista, é por ora o menos.
    Em minha domesticidade, aborrece-me o estado de um dente. Vou ter de livrar-me dele a alicate, estou mesmo a ver que sim. Chatice à vista, portanto. Ou amargo-de-boca, literalmente. De resto, livralhada & horas mais-ou-menos vagas.

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    Um belo fragmento de Osbert Sitwell (op. cit.):

    “(…) the blood, that fragile scarlet tree we carry within us (…)”

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    Instaurada a noite. Vi um teledisco de 1982: Estou Além, de & por António Variações (Portugal, 1944-1984), um dos nossos mais originais artistas finisseculares. Viveu pouco & muito depressa – se ainda hoje é lembrado, é porque o merece.
    Tive de cear umas papas lácteo-cerealíferas por causa da dentuça avariada: como os bebés & como os vèlhadas. Ai a minha vida, suspiro eu à guisa dos Xutos & Pontapés (Portugal, desde 1978). Nada de demasiado grave.
    Mais artistas do dia que ora fenece: Manuel Vásquez Montalbán (Espanha, 1939-2003), Mark Ruffalo (USA, 1967), Raul Solnado (Portugal, 1929-2009), Carlos Paredes (Portugal, 1925-2004). Em excelsa companhia ando, caladamente selector de quem me faz crescer por dentro.



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