05/06/2021

PARNADA IDEMUNO - 437 & 438

© DA.


437

Sexta-feira,

4 de Junho de 2021

    As provisões de & para Junho são de satisfatória consistência. Avaliei-as pela finimanhã da corrente sexta-feira. Há sol dando mundo, tenho de sair por duas horas, conto estar de volta antes das dezoito. Esta é a parte mais fácil.
    A breve viagem do dia faz linha oblíqua pelo diagrama do real. Fi-la já bastantes vezes de invernia solta, refaço-a agora em pleno pórtico estival. Há sempre novidade florescendo por entre as rotinas senectas. Levo comigo lápis & máquina-photomaton, algo trago para casa – não tanto quanto outrora, é verdade, mas ainda assim alguma coisa.
    Semotas aragens não me cabe aspirar.
    Dou-me por contente não havendo incêndios.
    A minha ventura, garanto-a por compêndios
    que me ensinam a dizer pós muito soletrar.
    Na descida que vai da padaria dos ciganos à rotunda das tangerinas, um trecho de baldio está crivado de papoilas. É como se meninas de bibe por ali brincassem gravemente. Uma vez por semana, vejo aquela festa solene, aquela euforia ponderosa, aqueles gritinhos escarlates rompendo da garganta virente do chão. É bonito como algum gesto desinteresseiro, algum verso de António Osório.
    Aquieto-me por ora na antecâmara da saída. Ainda espero estar de volta.

438

    Cá voltei, roçavam as dezoito. Dia bonito nesta parte do mundo. Moderada dinâmica da urbe, é ainda notável o aleijão social da pandemia-chinoca. Talvez ainda haja, eu, alguns anos disto: luz, vias, moldura arbórea, papoilas, Mondego.
    Estive em proximidade para com três pessoas, com todas conversei um pouco. Soube-me bem fazê-lo, não o tenho feito assiduamente neste último ano & ½.
    A caminho (ida & volta), mirei:

    As tais papoilas de berma-baldio.
    Também de rubro & d’iridescente furta-cores, uma moça.
    Esplanada de compinchas cervejófilos à sombra.
    Táxi número 1 da praça-de-Coimbra
    (na Avenida Fernando Namora, perto da Casa Branca).
    Duas airosas velhotas merendando chá/bolo-inglês.
    Mulher-da-limpeza em pausa-tabágica sob guarda-sol.
    Velhote de chapéu esperando que o seu cachorro acabasse de assinar a mijo o sopé do plátano.
    Como estandartes & bandeiras de exposição-universal, lençóis a enxugar ao longo de longo arame em um pátio de instituição caritativa.
    Crianças, não vi.
    São duas visões, comuns na minha juventude, agora extintas: crianças sozinhas & cães livres pelas ruas. É tudo mais apertadamente amestrado agora. Não digo que seja pior, como também não afirmo que seja melhor. Também ninguém me pede opinião, deixá-lo, amanhã é sábado.


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Canzoada Assaltante