17/06/2021

PARNADA IDEMUNO - 481 & 482

© DA.


481

Quarta-feira,
16 de Junho de 2021

    Não há-de ser hoje que eu confunda Walter Scott com Scott Walker. Nem a mão-esquerda de Osbert Sitwell com a dextra do dito senhor. Isto, indo lá com calma, organiza-se. Muito cedo, pela fímbria da alva, vi telas de Mário Botas & de Paula Rêgo. Escutei o disco de 1973 dos Roxy Music. Os manos do boletim-meteorológico prometem abaixamento de temperatura de hoje a sexta. Oxalá. Posso abominar (e abomino) horóscopo-zodíaco-charlatanices, mas cá tenho, de vez em quando, alguma fèzada nos áugures da profeci’atmosférica.
    É dia de ir ver o Zé. Por enquanto tenho o 12 dos Actos dos Apóstolos para entreter a caspa. (E pronto, Herodes já se lixou, para desgosto dos judeus.) Grassa fora a hora em cinza: nublação uniforme, nem rasgo áureo de sol. Eu gosto. O arvoredo choupalino parece mais compacto, mais conforme a solidariedade arbórea. Flúi o trânsito na via-norte. As televisões embandeiram-em-arco com o triunfo português de ontem (0-3 na Hungria). As massas são fáceis, vão a toque lombar de cajadadinha, problema nenhum, despedem duas mil pessoas da TAP mas dois altos-tachos desta vão selfielmar-se em Madrid a dizer que os espanhóis são bons para recrutamento, abençoados sociopatas.
    Anselmo, da Tipografia Efebo, já pediu contagem de anos de trabalho com desconto. Reúne em Dezembro próximo os requisitos legais para a pensão de reforma integral. Não anda contente, achou-se de repente envelhecido, sempre gostou de trabalhar, sempre são quarenta & oito anos a dar-lhe no duro.
    Temporal saraivante anda varrendo Minho & Trás-os-Montes. Custa ver o labor agrícola devastado. Junho roubou a Maio a época electrotrovejante.
    A notação noticiosa que vou fazendo, todavia, não é nem mais nem menos fiável do que as lucubrações que dedico ao imaginário meu recorrente. Ou assim: entre nós Portugueses, árvores derrubadas pela ventaneira; entre os antigos Romanos, Lucina presidindo aos partos. Assim articulo o meu dia. O facto (verdadeiro, indesmentível) de eu passar ao lado de uma grande carreira não me obriga a passar ao lado do Tony Carreira. Digamo-lo assim no intuito de fazer sorrir o fotógrafo.
    (Aos oito minutos para as nove, beleza: a pucciniana Tosca povoa de sofisticação esta habitação. Muito pode a Grand’Arte. Fine Atto Primo.)

482

Dura o mistério quanto dura a ignorância.
Como é morrer de sede em pleno mar?
Palavras, trá-las o vento: humanas nem todas.

Que dia viveste?
Que dia tiveste?
Que dia fizeste?

Revi a horta anexa ao Lar do meu Irmão.
Achei-a magnífica, próspera, laborada.
Bela obra é ela, vale bem versos.

É ainda válido lançar os dados.
Há ainda inacabamentos.
Há ainda o que começar.

Não V. peço contas de Vossos anos.
Algumas dos meus V. conto todavia.
Mal V. não faz – e a mim, algum bem.

Vi algum sol, ofuscou-se depois a finitarde.
Quando volvi, já arrefecera, ventava um pouco.
Em doméstico recato, não espero nem desespero.

Pai, mãe, casalito de filho & filha.
Em zona lacustral-montanhosa.
As crianças brincam na água, os pais veneram-nas.


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Canzoada Assaltante